Antonio Carlos Egypto
O GAROTO DA BICICLETA (Le Gamin au Vélo). Bélgica, 2011. Direção: Jean Pierre e Luc Dardenne. Com Cécile de France, Thomas Doret, Jérémie Renier. 87 min.
“O Garoto da Bicicleta” começa nos mostrando uma criança arisca, que foge correndo, a pé ou de bicicleta, e evita o contato com os adultos. Ela está provisoriamente numa instituição educacional, uma espécie de orfanato. Mas está obcecada por reencontrar o pai, que a deixou lá.
O personagem é o menino Cyril (Thomas Doret), de 11 anos, já um pré-adolescente. O pai, vivido por Jérémie Renier, não o quer de volta, mas o garoto reluta em ver isso. Encontra uma mãe substituta, Samantha (Cécile de France), que o adota, inicialmente nos finais de semana, e tenta ajudar Cyril a superar a dor da rejeição. Ela tem carinho para dar, disposição e paciência para ajudar. Mas o tamanho do rombo que a rejeição produz no garoto tornará essa tarefa especialmente difícil e complicada.
Os apelos que o menino encontrará em seu entorno só agravarão a situação. A bicicleta parece ser sua única companheira permanente, podendo ser objeto de furto, o que exige dele que brigue e até morda por ela.
Estamos num filme dos irmãos Dardenne, diretores com muita sensibilidade para os dramas humanos, em especial, para os elementos que revelam o que o homem tem de mais mesquinho ou cruel. Não por maldade intrínseca, mas movido por circunstâncias para as quais não está preparado, ou se sente especialmente carente ou abandonado. Saídas egoístas, cruéis, insensíveis, violentas, são respostas esperadas pelas pessoas que estão ou se colocam em crise.
Os Dardenne são extremamente talentosos para lidar com os dilemas morais que a realidade coloca na vida das pessoas. O que interessa a eles não são os princípios, mas a resolução moral prática a que estão todos sujeitos em cada situação concreta.
Os personagens não são julgados, são mostrados em suas ações, decisões e circunstâncias concretas. Mostrados muito de perto e sem disfarces, pelas câmeras que parecem invadir o interior de cada um. Estão lá também o medo, o pavor, as hesitações, os passos dados em falso por pura incompetência para avaliar os fatos e suas consequências.
Numa mise-en-scène seca, sem artifícios e sem dramaticidade, o espectador observa tudo, faz seu julgamento e pode torcer para que o melhor aconteça. É óbvio que, geralmente, isso não é o que ocorre. Mas um lance de sorte pode salvar um personagem aparentemente destruído. Não retira nenhum dos atributos negativos que estavam presentes nas atitudes humanas. Mesmo assim, a esperança pode vencer.
“O Garoto da Bicicleta” é um filme brilhante, em todos os sentidos. No meu modo de ver, superior a outros ótimos trabalhos da dupla de cineastas, como “O Filho”, de 2002, que tem muita coisa em comum com este “O Garoto da Bicicleta”, mas era mais amargo. Dilemas morais também aparecem com força em “A Criança”, de 2005. Decisões que envolvem terríveis consequências estão no filme anterior deles, “O Silêncio de Lorna”, de 2008. No filme atual, no entanto, todo o trabalho aparece mais apurado, com mais luminosidade, e com um ritmo impecável, além do excelente desempenho do elenco. Aliás, via de regra, os Dardenne obtêm sempre desempenhos notáveis de seus atores, mesmo que se utilizem de alguns pequenos truques para obter os sentimentos desejados na atuação deles.
Jean Pierre e Luc Dardenne, os irmãos belgas, já fazem parte da galeria dos grandes diretores do cinema mundial. “O Garoto da Bicicleta”, filme de abertura e um dos principais destaques da 35ª. Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, é uma afirmação eloqüente disso. O filme ganhou o Grande Prêmio do Júri do Festival de Cannes. Os diretores já acumulam, a esta altura, várias premiações em Cannes.
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