Antonio Carlos Egypto
DOIS IRMÃOS (Dos Hermanos). Argentina, 2010. Direção: Daniel Burman. Roteiro: Daniel Burman e Sergio Dubcovsky. Com Antonio Gasala, Graciela Borges, Elena Lucena, Rita Cortese. 105 min.
Daniel Burman, jovem diretor argentino de 37 anos, já tem uma carreira de destaque e êxitos cinematográficos, ao quais se acrescenta agora “Dois Irmãos”. Conhecido do público brasileiro pelos filmes “El Abrazo Partido”, de 2004, “As Leis de Família”, de 2006, e “Ninho Vazio”, de 2008, Burman dedica seu cinema a tratar de relações pessoais, sempre fortemente marcadas por laços familiares.
As relações de adultos jovens com a figura paterna são determinantes nos dois primeiros filmes citados. Por sinal, dois ótimos trabalhos que combinam drama, humor e diálogos inteligentes, na dose certa e são capazes de explorar com consistência os vínculos tratados e questões relativas à identidade.
Em “Ninho Vazio”. foram o avançar da idade e os novos desafios que a maturidade traz o foco abordado. E é o ninho familiar que fica vazio e muda o rumo das vidas de um homem e uma mulher que envelhecem.
No atual “Dois Irmãos”, o título já informa que ele permanece fiel à temática familiar. Marcos (Antonio Gasala) atinge a terceira idade com uma vida limitada, sem grandes realizações ou amores, à exceção da mãe, a quem dedicou fidelidade absoluta até o leito de morte. Sua irmã, Susana (Graciela Borges), é muito ativa, ocupada e agitada, sempre metida em negócios. Na verdade, é uma trambiqueira, que ganha dinheiro em operações de reserva de compra e venda de apartamentos de alto padrão, que ela sistematicamente despreza, para conseguir os melhores preços e os menores sinais possíveis. Sua relação com o irmão é de dominação e manipulação.
A relação entre ambos, como seria de se esperar, é de amor e ódio recíprocos. As cenas do filme vão esquadrinhando essa relação e explicitando com muita eficiência essa mescla de sentimentos que, na verdade, são as faces inevitáveis de um vínculo obrigatoriamente forte, como costuma ser o de irmãos.
Se ela acha que pode tudo junto ao irmão, ele precisaria do sonho para adquirir a coragem necessária para se expressar e se contrapor a ela. Mas tudo tem o seu limite e é aí que o conflito se acirra e se faz possível uma grande mudança. A humanidade dos personagens se amplia e as coisas se tornam mais complexas e muito mais interessantes. Estereótipos e preconceitos são superados e a realidade que emerge é muito mais rica, valorizando a diversidade humana, a busca da autonomia e o valor do desejo e dos sonhos na vida das pessoas.
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