Antonio Carlos Egypto
O SEGREDO DOS SEUS OLHOS (El Secreto de Sus Ojos). Argentina, 2009. Direção: Juan José Campanella. Com Ricardo Darín, Soledad Villamil, Pablo Rago e Javier Godino. 127 min.
Um thriller contemporâneo, muito bem dirigido e vistoso, é o novo trabalho do diretor argentino Juan José Campanella, o mesmo de “O Filho da Noiva (2001) e “Clube da Lua” (2004).
Benjamin Espósito (Ricardo Darín) sempre trabalhou num Tribunal Penal. Quando se aposenta, resolve escrever um romance. O assunto remete a algo não resolvido para ele há 25 anos: um assassinato com marcas de grande violência, que acabou inconcluso, em função do momento político argentino, a gestação e a implantação da ditadura militar.
Suas vivências daquele fato, os personagens com quem se envolveu e com quem trabalhou, voltam à cena, para que ele, afinal, consiga elaborar aquela experiência traumática. Conhecemos seu colaborador, que acabou morto, confundido com o próprio Espósito, e, sobretudo, reaparece a juíza Irene (Soledad Villamil), um amor que não conseguiu se expressar na época. Haverá tempo para ressignificar tudo aquilo e deslindar toda a história? O filme alterna continuadamente o momento presente e aquele passado que não quer desaparecer da cabeça do personagem Espósito.
E o que é a paixão? De acordo com a trama de “O Segredo dos Seus Olhos”, é aquilo que fica, do qual não podemos abrir mão, ainda que ela possa nos colocar em perigo ou mesmo nos enlouquecer. Ou seja, a paixão é o que nos move, consciente ou inconscientemente, de forma lógica ou irracional. Dela não escapamos, ou não queremos escapar. A paixão de um dos personagens pelo futebol, mais especificamente pelo time do Racing, possibilita ao diretor realizar uma cena brilhante em movimento e expressividade.
Uma curiosidade interessante é que nas cenas de campo-contracampo, em que a câmera mostra ora, um, ora, outro dos personagens, “o outro” sempre aparece em parte e desfocado, na frente do quadro, como que a acentuar que é de diálogo que se trata, que o outro está lá presente.
Muitas coisas acontecem ao fundo ou na lateral do enquadramento, assim como as falas, que aparecem fora de cena, antecipando ou prolongando a ação, recursos muito presentes num cinema contemporâneo de qualidade. Os diálogos do filme talvez sejam seu maior mérito. São deliciosos, irônicos, hilários, originais em sua dramaticidade, e contribuem para manter o suspense do quebra-cabeças que o filme nos apresenta. Com isso, a fita permanece sempre atraente e prende a atenção do espectador o tempo todo.
É mais um trunfo do cinema argentino, vencedor do Oscar como filme estrangeiro. E mais um desempenho notável desse grande ator que é Ricardo Darín.
Um dos bons filmes estrangeiros da seleção dos indicados ao oscar desse nao. Acho que não leva. O prêmio deve ficar mesmo com " A Fita Branca".
ResponderExcluirGrande abraço e parabéns pelo blog.