Antonio Carlos Egypto
APROXIMAÇÃO (Disengagement). Israel, 2007. Direção: Amos Gitai. Com Juliette Binoche, Liron Levo, Jeanne Moureau e Barbara Hendricks. 115 min.
Amos Gitai é um diretor de cinema israelense, nascido em Haifa, em 1950, que sempre abordou em seu trabalho questões do judaísmo, em seus aspectos históricos, religiosos (as diferentes visões e valores dentro do judaísmo), os conflitos no Oriente Médio, as guerras que assolam a região em que seu país está envolvido e até aspectos militares desses conflitos.
Seu olhar é pacifista, profundamente humano e capaz de enxergar os vários lados da questão. Por meio de personagens não muito elaborados, que vivem e sofrem em função desses conflitos, ele ressalta, mediante a vivência de uma pessoa ou de poucas pessoas, o drama humano não só dos judeus israelenses ou dos palestinos, mas de todos os povos e nações que ali se relacionam.
Ele mesmo viveu a experiência de atuar na guerra do Yom Kippur, nos anos 1970, integrando uma unidade de salvamento aéreo, o que lhe serviu de base para o filme “Kippur – O Dia do Perdão” (2003). Em “Kedma” (2002), é a criação do Estado de Israel que aparece na história dos sobreviventes de campos de concentração, que viajam de navio para chegar à Palestina, onde são recebidos a bala por soldados ingleses.
Em “Kadosh – Laços Sagrados” (1999), é a relação entre a ortodoxia judaica e o mundo contemporâneo o que se vê no papel designado às mulheres, especialmente na reprodução, e na forma diferenciada como os personagens femininos reagem aos cânones tradicionais. Em “Free Zone” (2005), a chamada zona franca de negócios é a que fica na fronteira entre Iraque, Síria e Arábia Saudita. Conflitos pessoais entre três mulheres, que lá se encontrarão por diferentes razões e motivações, movem o filme, que respeita e valoriza as diferenças.
A película programada para entrar em cartaz nos cinemas e que foi batizada de “Aproximação” é de 2007 e trata de uma situação complicada. Questões políticas levaram o governo de Israel, em nova tentativa para que negociações de paz pudessem ter algum resultado, a retirar, nem que fosse preciso usar a força, judeus assentados na Faixa de Gaza. Uma contradição difícil de ser assimilada, sobretudo para os mais religiosos. As cenas de pessoas sendo carregadas pelos soldados israelenses, enquanto homens e mulheres, em salas separadas e em vestimentas típicas, entoam canções religiosas e leem a Torah, são as de maior impacto do filme. E colocam em campos opostos uma mãe à procura de sua filha, que está sendo retirada por soldados, comandados por ninguém menos que o irmão adotivo daquela mãe. Doloroso, não é?
Para mim, a cena que vale o filme é um plano-sequência longo, logo no seu início, quando um israelense se envolve com uma palestina, a partir de um simples encontro no corredor do trem, para compartilhar cigarros, e um fiscal, que controla passaportes, manifesta por falas e comportamento a inviabilidade da aceitação social da atração entre um israelense e uma palestina. Quando ele procura protegê-la de uma intransigência inexplicável do fiscal, isso soa como algo inadmissível, como se as pessoas tivessem de ser inimigas no plano pessoal e jamais pudessem se atrair sexual ou amorosamente. A conversa do casal remete à discussão do que é uma nacionalidade e do que ela pode significar.
O cinema de Gitai é generoso, voltado aos sentimentos humanos, mas sem concessões ao cinema comercial dominante. A começar pelos planos-sequência, onde tudo acontece devagar. A situação e a história importam mais do que a construção elaborada dos personagens. Eles estão ali para viver o drama que o contexto ou a história lhes impôs. Entendemos bem o que se passa, sem que tenhamos de atentar para meandros complexos de suas personalidades.
O seu jeito de filmar é elegante, bonito, mas exige uma atenção concentrada e, naturalmente, ajuda muito ter algumas informações sobre o contexto de seus filmes, já que ele está centrado nas pessoas, mas o drama delas se dá por razões coletivas, mais do que por razões individuais.
No elenco desse filme, se destacam Juliette Binoche, ótima, e, num pequeno papel, aparece uma envelhecida, mas sempre notável, Jeanne Moureau. Liron Levo faz muito bem o principal papel masculino.
Amos Gitai é um diretor de cinema israelense, nascido em Haifa, em 1950, que sempre abordou em seu trabalho questões do judaísmo, em seus aspectos históricos, religiosos (as diferentes visões e valores dentro do judaísmo), os conflitos no Oriente Médio, as guerras que assolam a região em que seu país está envolvido e até aspectos militares desses conflitos.
Seu olhar é pacifista, profundamente humano e capaz de enxergar os vários lados da questão. Por meio de personagens não muito elaborados, que vivem e sofrem em função desses conflitos, ele ressalta, mediante a vivência de uma pessoa ou de poucas pessoas, o drama humano não só dos judeus israelenses ou dos palestinos, mas de todos os povos e nações que ali se relacionam.
Ele mesmo viveu a experiência de atuar na guerra do Yom Kippur, nos anos 1970, integrando uma unidade de salvamento aéreo, o que lhe serviu de base para o filme “Kippur – O Dia do Perdão” (2003). Em “Kedma” (2002), é a criação do Estado de Israel que aparece na história dos sobreviventes de campos de concentração, que viajam de navio para chegar à Palestina, onde são recebidos a bala por soldados ingleses.
Em “Kadosh – Laços Sagrados” (1999), é a relação entre a ortodoxia judaica e o mundo contemporâneo o que se vê no papel designado às mulheres, especialmente na reprodução, e na forma diferenciada como os personagens femininos reagem aos cânones tradicionais. Em “Free Zone” (2005), a chamada zona franca de negócios é a que fica na fronteira entre Iraque, Síria e Arábia Saudita. Conflitos pessoais entre três mulheres, que lá se encontrarão por diferentes razões e motivações, movem o filme, que respeita e valoriza as diferenças.
A película programada para entrar em cartaz nos cinemas e que foi batizada de “Aproximação” é de 2007 e trata de uma situação complicada. Questões políticas levaram o governo de Israel, em nova tentativa para que negociações de paz pudessem ter algum resultado, a retirar, nem que fosse preciso usar a força, judeus assentados na Faixa de Gaza. Uma contradição difícil de ser assimilada, sobretudo para os mais religiosos. As cenas de pessoas sendo carregadas pelos soldados israelenses, enquanto homens e mulheres, em salas separadas e em vestimentas típicas, entoam canções religiosas e leem a Torah, são as de maior impacto do filme. E colocam em campos opostos uma mãe à procura de sua filha, que está sendo retirada por soldados, comandados por ninguém menos que o irmão adotivo daquela mãe. Doloroso, não é?
Para mim, a cena que vale o filme é um plano-sequência longo, logo no seu início, quando um israelense se envolve com uma palestina, a partir de um simples encontro no corredor do trem, para compartilhar cigarros, e um fiscal, que controla passaportes, manifesta por falas e comportamento a inviabilidade da aceitação social da atração entre um israelense e uma palestina. Quando ele procura protegê-la de uma intransigência inexplicável do fiscal, isso soa como algo inadmissível, como se as pessoas tivessem de ser inimigas no plano pessoal e jamais pudessem se atrair sexual ou amorosamente. A conversa do casal remete à discussão do que é uma nacionalidade e do que ela pode significar.
O cinema de Gitai é generoso, voltado aos sentimentos humanos, mas sem concessões ao cinema comercial dominante. A começar pelos planos-sequência, onde tudo acontece devagar. A situação e a história importam mais do que a construção elaborada dos personagens. Eles estão ali para viver o drama que o contexto ou a história lhes impôs. Entendemos bem o que se passa, sem que tenhamos de atentar para meandros complexos de suas personalidades.
O seu jeito de filmar é elegante, bonito, mas exige uma atenção concentrada e, naturalmente, ajuda muito ter algumas informações sobre o contexto de seus filmes, já que ele está centrado nas pessoas, mas o drama delas se dá por razões coletivas, mais do que por razões individuais.
No elenco desse filme, se destacam Juliette Binoche, ótima, e, num pequeno papel, aparece uma envelhecida, mas sempre notável, Jeanne Moureau. Liron Levo faz muito bem o principal papel masculino.
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