Antonio Carlos Egypto
O filme de Laurent Cantet “Entre os muros da escola” (Entre les murs), França, 2008, se insere na tendência da atualidade cinematográfica que borra as fronteiras entre ficção e documentário. Algo que o cinema iraniano explorou bem e que teve um ponto alto em “Jogo de Cena”, de Eduardo Coutinho. Afinal, o que estamos vendo é real ou representação?
O texto foi escrito por um educador (François Bégaudeau), que é o protagonista do filme, um professor tarimbado. Seus colegas de trabalho e sobretudo seus alunos são tão verdadeiros e tão facilmente reconhecíveis que nos fazem crer que a realidade está lá, sem produção ou disfarce. Como se fosse possível filmar sem alterar os comportamentos das pessoas.
Quem trabalha, ou trabalhou, em escola e se envolveu genuinamente com o ato de aprender e ensinar imediatamente se identifica com o filme. E com a escola como instituição, suas possibilidades, seus limites, suas decepções e sua vitalidade.
A tarefa educativa é complexa, cheia de meandros e, por mais consciência que se tenha do processo, domínio de si mesmo e a melhor das intenções, é fácil escorregar e arriscar pôr muita coisa a perder. O que é justo e ético comporta frequentemente grandes questionamentos no dia-a-dia escolar. Qual o limite entre o acolhimento, a compreensão, o investimento no crescimento do educando e o descumprimento de normas, o enfrentamento, a agressividade e o descomprometimento de alguns alunos? Com um complicador a mais: o trabalho é coletivo, não individual. Muitas vezes, a decisão do grupo pode estar equivocada. E como saber qual seria a melhor alternativa, quando as há?
Tudo isso e muito mais está presente, e com muita força, no filme de Cantet. Situações muito bem colocadas, diálogos ótimos, conflitos apenas esboçados ou claramente explicitados, o manejo delicado de cada momento exposto em cada cena, compõem um conjunto que nos leva a vivenciar o que é realmente a educação. Mostrar a grandeza desse trabalho no cotidiano, sem se valer de verdades estabelecidas nem pregações de nenhuma espécie, produz o que é a essência do processo educativo: o fazer pensar, a reflexão. O que o professor protagonista realiza todo o tempo na sua sala de aula é o que o filme constrói para o espectador.
Bem, mas e as especificidades da situação francesa, a diversidade de culturas e etnias que se vê ali, naquela sala de aula que, segundo o diretor do filme, é um microcosmo da sociedade? Esse é também um aspecto importante da película, mas a revelação do processo educativo, tal como ele se dá, quando há empenho e dedicação nessa atividade, não apenas interesses comerciais ou falta de opções, é o que faz o filme ser tão convincente e o que dá a dimensão maior do trabalho cinematográfico aqui realizado.
Africanos, chineses, antilhanos, árabes, judeus, muçulmanos e toda a diversidade possível que encontramos enriquecendo a convivência social, apesar de todos os conflitos que podem produzir, acabam por se equiparar no cotidiano educativo às infinitas variações que encontramos em cada aluno ou aluna, ainda que possam pertencer ao mesmo extrato cultural ou econômico. O desafio de lidar com a diversidade está na essência da ação de cada educador. Assim como as frustrações pelos inevitáveis insucessos. Quem não suporta frustrações ou quer resultados imediatos não consegue ser educador. O processo é longo e demorado. Penoso e desanimador, tantas vezes. Mas é aí que está a chave para a promoção do desenvolvimento humano e a conquista de uma vida melhor, numa sociedade mais harmônica e equilibrada.
Em “Ser e Ter” (Être et Avoir), de Nicolas Philibert, de 2002, vimos um documentário que mostrava o encanto de educar, com um método inovador e um professor especialmente hábil para lidar com grandes diferenças de idade, conhecimento e vivências, ensinando as mais variadas matérias. Estávamos numa escola rural, de classe única, com professor polivalente. Ali havia uma proposta a ser entendida e, talvez, avaliada. Em “Entre os muros da escola”, de Laurent Cantet, não há propriamente uma proposta ou um método. O que se vê é a essência do fazer educativo numa boa escola, parecida com todas as suas congêneres pelo mundo, onde os professores enfrentam inevitavelmente os problemas de sempre. Não há respostas nem soluções definitivas, mas há uma profunda crença no ato cotidiano de educar.
O filme de Laurent Cantet “Entre os muros da escola” (Entre les murs), França, 2008, se insere na tendência da atualidade cinematográfica que borra as fronteiras entre ficção e documentário. Algo que o cinema iraniano explorou bem e que teve um ponto alto em “Jogo de Cena”, de Eduardo Coutinho. Afinal, o que estamos vendo é real ou representação?
O texto foi escrito por um educador (François Bégaudeau), que é o protagonista do filme, um professor tarimbado. Seus colegas de trabalho e sobretudo seus alunos são tão verdadeiros e tão facilmente reconhecíveis que nos fazem crer que a realidade está lá, sem produção ou disfarce. Como se fosse possível filmar sem alterar os comportamentos das pessoas.
Quem trabalha, ou trabalhou, em escola e se envolveu genuinamente com o ato de aprender e ensinar imediatamente se identifica com o filme. E com a escola como instituição, suas possibilidades, seus limites, suas decepções e sua vitalidade.
A tarefa educativa é complexa, cheia de meandros e, por mais consciência que se tenha do processo, domínio de si mesmo e a melhor das intenções, é fácil escorregar e arriscar pôr muita coisa a perder. O que é justo e ético comporta frequentemente grandes questionamentos no dia-a-dia escolar. Qual o limite entre o acolhimento, a compreensão, o investimento no crescimento do educando e o descumprimento de normas, o enfrentamento, a agressividade e o descomprometimento de alguns alunos? Com um complicador a mais: o trabalho é coletivo, não individual. Muitas vezes, a decisão do grupo pode estar equivocada. E como saber qual seria a melhor alternativa, quando as há?
Tudo isso e muito mais está presente, e com muita força, no filme de Cantet. Situações muito bem colocadas, diálogos ótimos, conflitos apenas esboçados ou claramente explicitados, o manejo delicado de cada momento exposto em cada cena, compõem um conjunto que nos leva a vivenciar o que é realmente a educação. Mostrar a grandeza desse trabalho no cotidiano, sem se valer de verdades estabelecidas nem pregações de nenhuma espécie, produz o que é a essência do processo educativo: o fazer pensar, a reflexão. O que o professor protagonista realiza todo o tempo na sua sala de aula é o que o filme constrói para o espectador.
Bem, mas e as especificidades da situação francesa, a diversidade de culturas e etnias que se vê ali, naquela sala de aula que, segundo o diretor do filme, é um microcosmo da sociedade? Esse é também um aspecto importante da película, mas a revelação do processo educativo, tal como ele se dá, quando há empenho e dedicação nessa atividade, não apenas interesses comerciais ou falta de opções, é o que faz o filme ser tão convincente e o que dá a dimensão maior do trabalho cinematográfico aqui realizado.
Africanos, chineses, antilhanos, árabes, judeus, muçulmanos e toda a diversidade possível que encontramos enriquecendo a convivência social, apesar de todos os conflitos que podem produzir, acabam por se equiparar no cotidiano educativo às infinitas variações que encontramos em cada aluno ou aluna, ainda que possam pertencer ao mesmo extrato cultural ou econômico. O desafio de lidar com a diversidade está na essência da ação de cada educador. Assim como as frustrações pelos inevitáveis insucessos. Quem não suporta frustrações ou quer resultados imediatos não consegue ser educador. O processo é longo e demorado. Penoso e desanimador, tantas vezes. Mas é aí que está a chave para a promoção do desenvolvimento humano e a conquista de uma vida melhor, numa sociedade mais harmônica e equilibrada.
Em “Ser e Ter” (Être et Avoir), de Nicolas Philibert, de 2002, vimos um documentário que mostrava o encanto de educar, com um método inovador e um professor especialmente hábil para lidar com grandes diferenças de idade, conhecimento e vivências, ensinando as mais variadas matérias. Estávamos numa escola rural, de classe única, com professor polivalente. Ali havia uma proposta a ser entendida e, talvez, avaliada. Em “Entre os muros da escola”, de Laurent Cantet, não há propriamente uma proposta ou um método. O que se vê é a essência do fazer educativo numa boa escola, parecida com todas as suas congêneres pelo mundo, onde os professores enfrentam inevitavelmente os problemas de sempre. Não há respostas nem soluções definitivas, mas há uma profunda crença no ato cotidiano de educar.
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