segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

Sexualidade e Transgressão no Cinema de Almodóvar

Tatiana Babadobulos

Cinéfilo desde sempre, frequentador assíduo da Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, pós-graduado em Crítica de Cinema pela Faap e um dos autores do blog Cinema com Recheio, Antonio Carlos Egypto será o professor responsável pelo curso “Sexualidade e Transgressão no Cinema de Almodóvar”, que acontecerá no Planeta Tela, de 18 de março a 20 de maio.

Psicólogo educacional e clínico e sociólogo, Egypto conta, em entrevista, um pouco sobre o curso indicado “a todas as pessoas que gostem de cinema, especialmente do cinema do espanhol Pedro Almodóvar”, autor de filmes como “Mulheres à Beira de um Ataque de Nervos”, “Má Educação”, “Fale com Ela”, “Tudo Sobre Minha Mãe”.

Mais informações sobre o curso podem ser encontradas no site do Planeta Tela.


Como surgiu a ideia do curso sobre a sexualidade e a transgressão na obra de Pedro Almodóvar?
Foi em decorrência de dois anos de estudos sobre o cinema de Pedro Almodóvar, que é um grande autor da contemporaneidade cinematográfica e que sempre me interessou muito. Esse estudo resultou na monografia de conclusão do curso de pós-graduação em “Crítica de Cinema”, na Faap, e pretendo publicá-la em livro, assim que encontrar editora.

Como será o curso?
Tratará da obra cinematográfica de Almodóvar em todos os longas-metragens do diretor lançados comercialmente, focalizando a sexualidade e a transgressão no seu cinema, por meio da apresentação e debate de cenas de seus filmes, distribuídas em 10 aulas semanais, às quartas-feiras, à noite.

Quais os filmes serão estudados?
Trataremos de toda a sua filmografia, enquanto isso ainda é possível, já que são 16 filmes e outro está a caminho. Acredito que o trabalho dele é absolutamente coerente, desde os primeiros, produzidos na efervescência do movimento cultural da movida madrilenha que se seguiu à morte de Franco, até hoje.

Por meio de personagens surpreendentes, tramas improváveis e misturando gêneros cinematográficos, ele celebra a diversidade sexual e humana, combate tabus e preconceitos e descarta todos os tipos de moralismo, com muito humor e uma perspectiva positiva diante da vida, sem ingenuidade e com consciência clara dos problemas a enfrentar. Sua postura ideológica permanece ao longo de toda a sua obra, que amadurece, se sofistica e ganha em ternura e profundidade. Mas pretendo mostrar que o autor Almodóvar de “Pepi, Luci, Bom y Otras Chicas del Montón” ou “Labirinto de Paixões” tem a mesma visão de mundo do autor de “Tudo Sobre Minha Mãe” ou “Volver”. Só que com a idade a gente enxerga outras coisas, avalia melhor o peso que as coisas têm e isso acaba produzindo um trabalho mais maduro e com mais densidade.

Além de sexualidade e transgressão, você também aponta a relação entre a obra de Almodóvar e o franquismo. Por quê?
Na verdade, a transgressão almodovariana é filha do franquismo, foi gestada como reação radical e absoluta ao obscurantismo e à opressão que o ditador impôs à Espanha durante 36 anos. Para entender bem o cinema de Almodóvar, é preciso compreender o que foi o regime de Franco e tudo o que ele produziu de consequências, que ainda estão lá, na Espanha democrática e pluralista de nossos dias, cuja história ainda está se buscando resgatar e envolve milhares de mortos sem sepultura.

A quem o curso é destinado?
A todas as pessoas que gostem de cinema, especialmente do cinema de Pedro Almodóvar. E que gostem de conversar e trocar ideias sobre cinema, sem necessitar de conhecimentos específicos prévios. Pretendo que o curso seja bem participativo, não algo meramente expositivo. É dessa troca que acho que podem sair coisas boas, reflexões interessantes.

Vamos tratar também da metalinguagem, ou seja, o cinema dentro do cinema em Almodóvar. Essas cenas também serão objetos de análise no curso.

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