Antonio Carlos Egypto

Oh,
Canadá (Oh, Canada), Estados Unidos,
Canadá, 2024. Direção: Paul
Schrader. Elenco: Richard Gere, Jacob
Elordi, Uma Thurman, Michael Imperioli.
91 min.
“Oh,
Canadá”, baseado no livro Foregone,
de Russel Banks, aborda as memórias obscuras de um cineasta documentarista no
fim de sua vida, já muito abalado fisicamente e envolto em dores. Leonard Fife, o cineasta, decide gravar um
depoimento a um ex-aluno, “contando tudo”, repassando sua vida e disposto a
expor a sua verdade, da mesma forma que ele induzia as pessoas que ele filmava
em seus documentários a que o fizessem.
À
medida em que ele discorre sobre a sua história de vida e seu trabalho, ele vai
expressando a ideia de que construiu sua reputação de artista com uma carreira
progressista, com base em mentiras e meias verdades. Sentindo-se uma fraude, como costuma
acontecer com muita gente, quando se depara com suas contradições,
fragilidades, manipulações, fracassos não revelados.
Fazia
questão em ter sua companheira de muitos anos ao lado, acompanhando todo o
depoimento, porque afirmava que nem mesmo ela sabia do que ele tinha para
revelar.
Histórias,
amores, contradições, fugas, dissimulação, são coisas que podem fazer parte da
vida de um homem, nem por isso seus feitos precisam ser negados ou
desqualificados. Por exemplo, a ida ao
Canadá, fixando-se por lá, tem origem na sua luta contra a guerra do Vietnã e a
campanha pelo não alistamento. Também poderia significar uma fuga de tantas
questões pessoais não resolvidas, mas, afinal, uma coisa não apaga a outra.
A
narrativa que o filme desenvolve a partir dessa perspectiva documental em
primeira pessoa, no limite da vida, tem valor humanitário, nos ajuda a
compreender o humano em sua complexidade.
Como qualquer vida explorada a fundo.
Richard
Gere vive o moribundo Leo, enquanto Jacob Elordi o encarna na juventude, onde
os fatos principais se desenrolam. Com
uma peculiaridade, o filme coloca o ator idoso em cena com as mulheres e as
pessoas dos seus 20 anos de idade, em várias sequências, alternando com o Leo
jovem. O que é um achado interessante:
faz com que o Leo idoso viva/reviva as situações marcantes de sua vida de modo
a reavaliá–las. Ou mesmo relembrá–las. E se coloque na distância do observador.
O
elenco como um todo tem excelente atuação, com os matizes necessários de uma
trama que, por definição, se situa nas bordas, nos limites das emoções e do que
chamamos de verdade. Nas certezas das incertezas,
poderíamos dizer.
O
veterano Paul Schrader é diretor de muitos filmes, como “Jardim dos Desejos”,
2022, “Cães Selvagens”, 2016, “Vingança ao Anoitecer”, 2014, e êxitos dos anos
1980, como “Gigolô Americano”, “A Marca da Pantera” e “Mishima”. Roteirista destacado também de filmes de
Martin Scorsese, como “Taxi Driver”, 1976, “Touro Indomável”, 1980, e “A Última
Tentação de Cristo”, 1988. “Oh, Canadá”
é sua mais nova contribuição a um cinema que tem peso e valor artístico.
O CINEMA BRASILEIRO E O RECONHECIMENTO
INTERNACIONAL
Os
democratas, os cinéfilos e o público em geral vibraram com as vitórias de
“Ainda Estou Aqui”, que premiou Fernanda Torres como melhor atriz no Globo de
Ouro e o filme de Walter Salles, que levou o Oscar de filme internacional. Um sucesso que nos orgulha.
“O
Último Azul”, dirigido por Gabriel Mascaro, também brilhou no Festival de
Berlim, conquistando o Urso de Prata, o segundo prêmio mais importante do
evento.
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Kleber Mendonça Filho e Wagner Moura |
Agora
“O Agente Secreto”, dirigido por Kleber Mendonça Filho, que concorreu à Palma
de Ouro em Cannes, levou dois prêmios importantíssimos, para Kleber, como
diretor, e para Wagner Moura, como melhor ator.
E podem vir mais prêmios por aí.
Vamos aguardar.
Vale
comemorar esse momento notável do nosso cinema, sendo reconhecido
internacionalmente e alcançando boas bilheterias por aqui, para vários de seus
títulos.
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