terça-feira, 3 de junho de 2025

OH, CANADÁ

Antonio Carlos Egypto

 





Oh, Canadá (Oh, Canada), Estados Unidos, Canadá, 2024.  Direção: Paul Schrader.  Elenco: Richard Gere, Jacob Elordi, Uma Thurman, Michael Imperioli.  91 min.

 

“Oh, Canadá”, baseado no livro Foregone, de Russel Banks, aborda as memórias obscuras de um cineasta documentarista no fim de sua vida, já muito abalado fisicamente e envolto em dores.  Leonard Fife, o cineasta, decide gravar um depoimento a um ex-aluno, “contando tudo”, repassando sua vida e disposto a expor a sua verdade, da mesma forma que ele induzia as pessoas que ele filmava em seus documentários a que o fizessem.

 

À medida em que ele discorre sobre a sua história de vida e seu trabalho, ele vai expressando a ideia de que construiu sua reputação de artista com uma carreira progressista, com base em mentiras e meias verdades.  Sentindo-se uma fraude, como costuma acontecer com muita gente, quando se depara com suas contradições, fragilidades, manipulações, fracassos não revelados.

 

Fazia questão em ter sua companheira de muitos anos ao lado, acompanhando todo o depoimento, porque afirmava que nem mesmo ela sabia do que ele tinha para revelar.

 

Histórias, amores, contradições, fugas, dissimulação, são coisas que podem fazer parte da vida de um homem, nem por isso seus feitos precisam ser negados ou desqualificados.  Por exemplo, a ida ao Canadá, fixando-se por lá, tem origem na sua luta contra a guerra do Vietnã e a campanha pelo não alistamento. Também poderia significar uma fuga de tantas questões pessoais não resolvidas, mas, afinal, uma coisa não apaga a outra.

 


A narrativa que o filme desenvolve a partir dessa perspectiva documental em primeira pessoa, no limite da vida, tem valor humanitário, nos ajuda a compreender o humano em sua complexidade.  Como qualquer vida explorada a fundo.

 

Richard Gere vive o moribundo Leo, enquanto Jacob Elordi o encarna na juventude, onde os fatos principais se desenrolam.  Com uma peculiaridade, o filme coloca o ator idoso em cena com as mulheres e as pessoas dos seus 20 anos de idade, em várias sequências, alternando com o Leo jovem.  O que é um achado interessante: faz com que o Leo idoso viva/reviva as situações marcantes de sua vida de modo a reavaliá–las.  Ou mesmo relembrá–las.  E se coloque na distância do observador.

 

O elenco como um todo tem excelente atuação, com os matizes necessários de uma trama que, por definição, se situa nas bordas, nos limites das emoções e do que chamamos de verdade.  Nas certezas das incertezas, poderíamos dizer.

 

O veterano Paul Schrader é diretor de muitos filmes, como “Jardim dos Desejos”, 2022, “Cães Selvagens”, 2016, “Vingança ao Anoitecer”, 2014, e êxitos dos anos 1980, como “Gigolô Americano”, “A Marca da Pantera” e “Mishima”.  Roteirista destacado também de filmes de Martin Scorsese, como “Taxi Driver”, 1976, “Touro Indomável”, 1980, e “A Última Tentação de Cristo”, 1988.  “Oh, Canadá” é sua mais nova contribuição a um cinema que tem peso e valor artístico. 

 

 

O CINEMA BRASILEIRO E O RECONHECIMENTO INTERNACIONAL

 

Os democratas, os cinéfilos e o público em geral vibraram com as vitórias de “Ainda Estou Aqui”, que premiou Fernanda Torres como melhor atriz no Globo de Ouro e o filme de Walter Salles, que levou o Oscar de filme internacional.  Um sucesso que nos orgulha. 

 

“O Último Azul”, dirigido por Gabriel Mascaro, também brilhou no Festival de Berlim, conquistando o Urso de Prata, o segundo prêmio mais importante do evento.

 

Kleber Mendonça Filho e Wagner Moura

Agora “O Agente Secreto”, dirigido por Kleber Mendonça Filho, que concorreu à Palma de Ouro em Cannes, levou dois prêmios importantíssimos, para Kleber, como diretor, e para Wagner Moura, como melhor ator.  E podem vir mais prêmios por aí.  Vamos aguardar.

 

Vale comemorar esse momento notável do nosso cinema, sendo reconhecido internacionalmente e alcançando boas bilheterias por aqui, para vários de seus títulos.

 



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