Antonio Carlos Egypto
O PROPAGANDISTA (De Propagandist),
dirigido por Luuk Bouwman, focaliza a figura de Jan Teunissen (1898-1975), um
pioneiro do cinema holandês desde os tempos da cena muda. Obcecado por filmar, fazia de tudo para ter
acesso às condições de rodar filmes, destacando-se, inicialmente, como
montador. Seu talento para a sétima arte
facilitou o seu trabalho de conquistar o máximo de espaço no mundo do cinema, a
ponto de chegar a ser chamado de Rei do Cinema Holandês. Por meio de entrevistas ao historiador Rolf
Schuursma, nos anos 1960, ele fala de sua trajetória até chegar ao posto de
chefe do Departamento de Cinema do Partido Nazista Holandês e das SS, no
período de ocupação do país pelos alemães.
Nega, ou minimiza, sua responsabilidade política, aderindo e colaborando
decididamente com a ocupação nazista e descartando ser antissemita. Nos primeiros tempos, ele trabalhou na
Holanda como montador de filmes de judeus que saíram da Alemanha. Cineastas judeus que, posteriormente, foram
afastados, impedidos de exercer o seu ofício.
Além do depoimento, há um sem-número de imagens e documentos levantados
por pesquisas de historiadores, em que pese a tentativa deliberada de apagar a
história do cinema holandês desse período.
Teunissen alcançou plenos poderes e tornou-se um homem temido,
compartilhava de relação com a cúpula do partido nazista alemão, como Goebbels,
Göering e Himmler. Ao mesmo tempo,
enquanto Czar do Cinema, procurou desenvolver o cinema holandês e abrir caminho
para que novos cineastas pudessem aparecer.
Segundo seu depoimento, foi sempre o cinema, o desejo de fazer filmes e
de promover a criação cinematográfica na Holanda, o seu objetivo. No entanto, sem a adesão à causa nazista e o
colaboracionismo, isso não seria possível.
Uma figura que se incorporou à barbárie, manifestando bons propósitos e
com inegável talento na área cinematográfica, faz lembrar Leni Riefenstahl
(1902-2003), que criou imagens poderosas de Hitler e do nazismo, mas sempre
afirmou desconhecer os horrores do Holocausto.
O PROPAGANDISTA discute a
questão que envolve tanto Leni quanto Teunissen, os limites entre o
documentário e a propaganda, que produz desinformação, adesão ideológica,
formação de mitos, ativismo totalitário.
Em tempo de fake news e
disputa de narrativas, nada mais atual. Destaque entre os documentários
internacionais no 30º. Festival É TUDO
VERDADE 2025. 108 min.
LIZA: UMA HISTÓRIA VERDADEIRAMENTE
INCRÍVEL E ABSOLUTAMENTE VERDADEIRA (Liza: A Truly Terrific Absolutely True Story), dirigida por Bruce
David Klein, adota este título longo e bombástico sem razão de ser. Afinal, não entrega nada de tão
extraordinário assim, ao relatar a vida de Liza Minnelli. Ninguém espera que a vida de uma estrela
consagrada como a dela tenha sido fácil.
Para começar, porque ela é filha do diretor Vincent Minnelli, de
reconhecido sucesso no cinema. E mais:
filha da grande estrela Judy Garland, cujo brilho tenderia a ofuscar qualquer
uma, mas também teve uma vida conturbada , envolvendo álcool e outras drogas,
que deixou marcas evidentes na vida de Liza e de toda a Hollywood da
época. A morte da mãe teria deixado Liza
desamparada, se não fosse uma grande amiga que a adotou como mentora da vida
pessoal e profissional e a ajuda e participação de muita gente que cruzou no
seu caminho. Como Charles Aznavour, por
exemplo. Tudo foi muito difícil, os
casamentos, três abortos espontâneos e até a sina de trilhar caminhos
semelhantes aos da mãe aconteceu. A vida
humana é complicada, a vida artística, tão exposta e constantemente avaliada
por todos, mais ainda. No entanto, a boa
índole da atriz, cantora e dançarina de fácil contato com as pessoas, ajudou
muito. E ela está aí, desfrutando de uma
linda e destacada trajetória artística, que inclui prêmios como 1 Oscar, 1
Emmy, 4 Tonys, 1 Grammy e 2 Globos de Ouro.
Vale a pena ver o documentário que, por meio dos comentários dela mesma,
vai desenrolando a história toda da estrela de “Cabaret”, “New York, New York”
e tantas coisas mais. Mesmo limitada por
uma doença que a incapacita para a carreira artística, ela permanece vaidosa,
orientando a câmera e mostrando sua vitalidade e bom humor. Uma pessoa luminosa, com certeza. Filme exibido no Festival É TUDO VERDADE 2025. 103 min.
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