Antonio Carlos Egypto
O
BASTARDO (Bastarden). Dinamarca, 2023. Direção: Nikolaj Arcel. Elenco: Mads Mikkelsen, Simon Bennebjerg,
Amanda Collin, Kristine Kujath Thorp, Melina Hagberg. 127 min.
O
ditado “Fazemos planos e Deus ri” é uma ótima síntese para “O Bastardo”, drama
histórico, épico, que representa a Dinamarca na disputa pelo Oscar de filme
internacional. Dirigido por Nikolaj
Arcel, com passagens por Hollywood, mas de volta a seu país, roteirizado por
ele e por Anders Thomas Jensen, com base no romance de Ida Jessen, nos remete à
Dinamarca do século XVIII, mais especificamente, a uma região considerada
inóspita e infértil, na Jutlândia.
O
filme conta a saga do capitão Ludvig Kahlen, brilhantemente interpretado pelo
grande ator Mads Mikkelsen, em busca de colonizar e cultivar uma terra
renegada, que pertence ao rei, mas é dominada pelo nobre Federik De Schinkel
(Simon Bennebjerg), com quem travará uma verdadeira guerra.
Apoiado
pelo rei, quando conquista avanços inesperados, e por Ann Barbara (Amanda
Collin), e cuidando de uma menina cigana, rejeitada e preconceituosamente
tratada como amaldiçoada, Anmai Mus (Melina Hagberg), ele enfrenta todo tipo de
problemas e questões que, inevitavelmente, não será capaz de controlar, apesar
de sua determinação e capacidade de resistir.
A
terra prometida ou a terra do rei foram usadas também como título para esse
filme, já que é igualmente dela que se trata em toda a trama.
Por
que, apesar de fazermos grandes planos e sermos capazes de lutar bravamente por
eles, Deus ri? Desejos e ambições são
importantes, mas falham, porque a vida é um caos, dolorida, feia e bela, ao
mesmo tempo, extraordinária, como se explicita ao longo do filme. Ou seja, somos impotentes para controlar a
vida, ela nos escapa. Os sucessos podem
chegar quando menos se espera e fora de hora.
Os esforços serão recompensados, algumas vezes, mas em momentos
decisivos, não. Há interesses por todos
os lados, maldades, violência, intempéries.
As agruras exigem decisões que podem se revelar ingênuas ou equivocadas,
em alguns casos. Perigosas ou
inadequadas, em outros. Felizes, também.
Enfim,
“O Bastardo” nos leva a um drama histórico, uma aventura épica, plasticamente
bonita, que tem tudo a ver com a nossa existência humana, em qualquer canto e
em qualquer época. Um filme que estimula
os sentidos e dá o que pensar. Vale a
pena conferir.
Também
está entrando em cartaz nos cinemas o ótimo documentário “Othelo, o Grande”, de
Lucas H. Rossi, sobre um dos maiores atores e comediantes do Brasil de todos os
tempos: Grande Othelo (1915-1993). O
filme se vale de um vasto material de arquivo para compor a figura artística de
Sebastião Bernardes de Souza Prata, que rompeu todas as barreiras do racismo
estrutural para vir a ser o nosso ícone do cinema e de outras mídias.
O
documentário utiliza o recurso de contar a vida e a história de Grande Othelo somente
a partir dele mesmo, de suas falas, reflexões, entrevistas e de seu desempenho
artístico inesquecível, no cinema, no palco do teatro ou na TV. O que emerge daí é uma figura pequena em
estatura, mas muito grande na vida e na arte.
83 min.
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