ZONA
DE INTERESSE (The Zone of Interest). Reino Unido, 2023. Direção: Jonathan Glazer. Elenco: Christian Friedel, Sandra Hüller,
Johann Karthaus, Medusa Knopf. 103 min.
O
comandante Rudolf Höss (Christian Friedel) do campo de concentração, na
verdade, de extermínio, de Auschwitz, durante a Segunda Guerra Mundial, vive
com sua família numa bela casa, exatamente ao lado do campo, separada por uma
muralha. Com sua mulher, Hedwig (Sandra
Hüller), filhos, a sogra que aparece para visitá-los e outros, todos têm uma
vida aparentemente normal e muito confortável.
Esse é o ponto de partida do filme, baseado em obra de Martin Amis.
Convenhamos
que, por mais negacionismo que se pratique, por mais que se queira ignorar o
que acontece ao lado, isso é impossível.
Fornos crematórios emitem fumaça, há sons de tensão, gritos e, ainda
mais óbvio, as roupas de judeus que aparecem para serem aproveitadas pelos
empregados da casa e até um casaco de peles que Hedwig recuperará. Banalidade do mal é pouco.
Pois
bem, o que faz o diretor Jonathan Glazer? Não mostra nada de Auschwitz, tudo
está extracampo. O que é importante não
está em cena, não é mostrado, com exceção daquilo que interfere na vida
familiar de Höss. Uma maneira de não
explorar o Holocausto sensacionalisticamente?
Isso é
possível na medida em que já se conhece toda a história. Pequenos indícios são suficientes para
relembrá-la e condená-la.
Um
grande número de filmes já abordou o tema no cinema, das mais variadas formas e
estilos. Uma obra seminal é “Noite e
Neblina”, um curta de Alain Resnais, de 1956, que mostra o que foi Auschwitz,
quando o tema ainda estava quente. Hoje
tudo já foi dito e feito, direta ou indiretamente, por personagens distintos,
de forma documental, dramática e até de humor. Lembram-se de “A Vida é Bela”, de
Roberto Benigni? E já houve polêmicas
sobre o que se deve ou não mostrar sobre um assunto tão sensível e dolorido.
A
escolha de “Zona de Interesse” pelo distanciamento está não apenas na ausência
de imagens do Holocausto, mas também na filmagem de longe e no desempenho dos
atores e atrizes, sem nenhum close de rostos, expressões, movimentos. As performances
estão bem contidas, evitando as manifestações emocionais. Tudo ascético, supostamente neutro. E sem detalhes, exceto em algumas flores vermelhas,
que acabam transformando toda a tela em vermelho, representando o sangue. Assim como a morte aparece, no início e no
fim do filme, em tela toda escura. A
fotografia também é escura. O filme é
lúgubre, desagradável de se ver. O
grande mérito está no uso do som para revelar os horrores escondidos.
“Zona
de Interesse” está indicado ao Oscar de melhor filme, melhor filme
internacional, direção, roteiro adaptado e som.
Se, porventura, eu tivesse direito a voto, cravaria o som. E só.
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