Antonio Carlos Egypto
VIDAS
PASSADAS (Past Lives). Coreia do Sul, 2023. Direção e roteiro: Celine Song. Elenco: Greta Lee, Teo Yoo, John Magaro,
Seung Ah Moon, Leem Seung Min. 105 min.
“Vidas
Passadas” começa nos mostrando duas crianças, encantadas uma com a outra,
inseparáveis, a menina Na Young (Seung Ah Moon) e o menino Hae Seung (Leem
Seung Min). Isso há 24 anos atrás,
quando a família dela se muda da Coreia do Sul, enquanto ele permanece lá. O
filme irá explorar ao longo do tempo o que acontece com uma conexão tão forte
quanto essa. Partindo do pressuposto,
como nos explica ela quando adulta, de que existe o In-Yun, um laço que une as
pessoas porque esse vínculo já existia, já veio de vidas passadas. Essa crença dá à história um sabor de
originalidade, um plus que sofistica
um amor que sempre teria existido, por isso pode ser reativado muitos anos
depois.
Com
efeito, buscas na Internet possibilitam um encontro virtual entre eles, 12 anos
depois da separação, enquanto crianças, quando Na Young já vive em Nova York,
desenvolvendo uma carreira literária e adotando lá o nome de Nora (Greta
Lee). Ela está casada com o
norte-americano Arthur (John Magaro).
Passam-se mais 12 anos, até que Hae Seung (Teo Yoo) resolva ir
pessoalmente a Nova York, para ver Nora.
Como esse vínculo se manifestará agora?
O que
o filme da diretora e também roteirista Celine Song desenvolve é uma capacidade
de dizer muito com muito pouco, explorando olhares, silêncios,
ambiguidades. Tudo com muita sutileza,
tanto nos desempenhos dos atores e atrizes, ótimos, quanto na trilha sonora
leve e na fotografia que dispensa cores fortes ou muita luminosidade. Tudo isso num romance em meios tons, sem
arroubos ou expressões emocionais intensas.
De um modo oriental. Ou, quem
sabe, mesmo coreano. Nora explica para
Arthur como é Hae Seung, dizendo que ele tem uma virilidade bem coreana. E dá para entender, vendo o personagem agir
com educação, cuidado, respeito pelas pessoas, sem sinais de grossura ou
agressividade, mesmo contrariado. Nora é
uma figura de mulher forte, decidida, ambiciosa, mas, ao mesmo tempo, doce,
acolhedora, delicada.
Com essas
características creio que já dá para ver que “Vidas Passadas” consegue fisgar o
espectador, deixando sempre uma dúvida no ar.
Observar a forma como cada personagem lida com as situações, e ao longo
do tempo, é um exercício muito interessante a se fazer, enquanto o filme
rola. Incluindo o não-oriental Arthur, o
marido de Nora.
“Vidas
Passadas” é um dos concorrentes ao Oscar.
Seu maior triunfo, em tempos de muita ação, super-heróis e todo tipo de
excessos, é essa capacidade de ser envolvente com sutileza.
CINEMA FANTÁSTICO BRASILEIRO 100
filmes essenciais
Esta é
a capa de um novo livro da Abraccine, organizado por Gabriel Carneiro e Paulo Henrique
Silva, que está sendo lançado amanhã (21/01/2024) na 27ª. Mostra de Cinema de
Tiradentes, MG. Em breve ele será lançado em São Paulo e em vários outros estados
brasileiros. Eu participo dele com uma crítica do filme “O Auto da Compadecida”.
Voltarei ao assunto em breve.
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