Antonio Carlos Egypto
ROBERTO
FARIAS, MEMÓRIAS DE UM CINEASTA. Brasil,
2023. Direção: Marise Farias. Documentário.
90 min.
A
filha mais nova do cineasta Roberto Farias (1932-2018), Marise Farias, realizou
um importante documentário sobre a relação de seu pai com o cinema, sua obra e
suas motivações em defesa do cinema brasileiro.
Além do registro de seu trabalho no cinema e na TV bastante conhecido e
de sucesso, ela encontrou um livro de memórias que ele deixou para a
posteridade, numa pasta do seu computador.
Essas memórias, narradas ao longo do filme pelo ator e irmão Reginaldo
Faria, vão compondo uma história de amor pelo cinema e uma visão de quem se
expressa pelo vínculo audiovisual sempre buscando alcançar o público. Para isso, se vale de uma narrativa mais
direta, capaz de ser compreendida e assimilada pelos espectadores.
Depois
de passar pela chamada chanchada, realizando, por exemplo, “Rico Ri à Toa”,
1957, enveredou por um caminho mais autoral e social, com “Cidade Ameaçada”,
1960, “Assalto ao Trem Pagador”, 1962, e “Selva Trágica”, 1963. Com a eclosão da ditadura militar, em 1964,
aliada ao fracasso econômico de “Selva Trágica”, dedica-se ao cinema de
entretenimento, com muita qualidade. Realizou
“Toda Donzela Tem um Pai que é Uma Fera”, 1966, e o grande sucesso da trilogia
com Roberto Carlos como protagonista, em grandes produções: “Roberto Carlos em
Ritmo de Aventura”, 1968, “R C e o Diamante Cor-de-Rosa”, 1970, e “R C a 300
kms por hora”, 1971. Voltaria ao gênero
com “Os Trapalhões no Auto da Compadecida” 1986. Mas antes deixaria como marca de sua carreira
“Prá Frente, Brasil”, 1982, que explora os espaços de distensão e o declínio da
ditadura, para abordar corajosamente a questão da tortura e desaparecimentos no
Brasil, numa narrativa ficcional.
O
documentário também mostra o papel do cineasta quando foi indicado e assumiu a
Embrafilme, entre 1974 e 1978, quando em plena ditadura a produção brasileira
de cinema cresceu e ganhou grande público, por meio também do incremento das
cotas de tela. Foi um período áureo do
nosso cinema nesse sentido. Os méritos
de Roberto Farias parecem hoje inegáveis, mas havia contestação e oposição ao
seu trabalho, na época.
O foco
do documentário está no amor ao cinema, que Roberto Farias demonstrou com sua
atuação e trabalhos, seu depoimento e como o descreveu no seu livro de
memórias. Destaca o profissional
apaixonado, que envolveu toda a família com o cinema, com ideias muito claras
sobre como realizar e promover o cinema brasileiro, conquistando o público e
disputando o mercado com o produto estrangeiro.
Alcançou bastante êxito em seus objetivos, embora a situação tenha se
revertido e hoje essa batalha seja ainda mais difícil e complicada do que foi
naquele período passado, em que Roberto Farias atuava com intensidade.
24ª. EDIÇÃO DA RETROSPECTIVA DO CINEMA
BRASILEIRO
Já
começou a tradicional Mostra Retrospectiva dos filmes recentes do cinema
brasileiro, para quem não pôde vê-los ou quer rever algum. De hoje, 07 de dezembro de 2023, até 10 de
janeiro de 2024, no Cinesesc, em São Paulo, rua Augusta, 2075. Veja a
programação no site do Cinesesc.
Nenhum comentário:
Postar um comentário