Antonio Carlos Egypto
SEGUNDO
TEMPO. Brasil, 2022. Direção e roteiro: Rubens Rewald. Elenco: Priscila Steinman, Kauê Telloli,
Michael Hanemann, Laura Landauer, Jochen Stern. 107 min.
O
título “Segundo Tempo” remete a futebol e é como o filme começa, num jogo
despretensioso que Carl (Kauê Telloli) disputa como coisa séria e que traz
consequências importantes para a trama.
Perdido o primeiro tempo, é da morte do pai que se trata e se desenvolve
todo o segundo tempo. Uma busca de Carl e de sua irmã Ana (Priscila Steinman)
pela história desconhecida do pai Helmut (Michael Hanemann), imigrante alemão
que veio ao Brasil por conta da Segunda Guerra Mundial.
Ele
nada dizia para eles do seu passado e a mãe já está morta há muito tempo. Ficam, então, a dúvida e a busca. Que se fará, naturalmente, na Alemanha. O filme se passa em São Paulo, Frankfurt e na
pequena cidade de origem de Helmut. O
que eles encontrarão são pedaços, fragmentos, de uma realidade incompleta que
eles tentarão compor e dar um sentido inequívoco. O que é difícil. Mas importa mais o processo do que o
resultado propriamente dito.
Nesse
processo, o irmão e a irmã se redescobrem, se reconectam de outro modo. Ele, na busca proativa e direta dos fatos,
ela, emergindo de um modelo de comportamento distante, alienado, de modo
depressivo. E tentarão, afinal,
cooperar, somar elementos, o que não estava na base desse vínculo fraternal.
As
personalidades de ambos são muito bem caracterizadas, inclusive em suas
imperfeições ou abordando elementos fundantes da ação, como a profissão de Carl
e a maneira como ele obtém dinheiro. A
realidade se mostra como tal, sem moralismos ou grandes dramas. Tudo se passa na banalidade da existência diária,
inclusive a viagem, tão pouco planejada e cheia de arestas, que vão desde as
vontades e disposições de cada um até as dificuldades de entendimento. Em uma sequência, Ana conversa com um alemão
do tempo de seu pai, conversa que é traduzida por uma alemã para o inglês. Carl vai saber do que se tratava, por meio de
Ana, em português.
O
casal de irmãos que protagoniza o filme nos passa a sensação de verdade e
autenticidade. São gente real, com
sentimentos que se compreendem com clareza, embora não estejam óbvios.
O
talento do diretor e roteirista brasileiro Rubens Rewald, em seu quarto
longa-metragem se evidencia aqui. Entre
seus trabalhos anteriores, “SuperNada”,
de 2013, trazia Jair Rodrigues no elenco. Já “Jair Rodrigues: Deixa que digam”, de 2020,
é um documentário que retrata o grande artista que ele foi. E são dois filmes muito bons, também. O cineasta vai, assim, acumulando uma
filmografia de respeito.
OJU Roda Sesc de Cinemas Negros
A
segunda edição deste evento que está acontecendo no Cinesesc, em diversas
unidades do SESC São Paulo e também na Plataforma Sesc Digital até o dia
16/04/2023, oferece ao público mais de 50 obras atuais de cineastas negros e
negras. Tem muitos filmes inéditos
(curtas e longas), como “Diálogos com Ruth de Souza”, de Juliana Vicente, além
de filmes consagrados, como “Marte Um” e “Noites Alienígenas”. Do Yorubá, “Oju” significa “Olho” e o cinema
se inicia pelo olhar, sensibilizado pela luz da projeção.
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