sexta-feira, 3 de fevereiro de 2023

ANDANÇA...OS ENCONTROS E AS MEMÓRIAS DE BETH CARVALHO

  Antonio Carlos Egypto

 

 



ANDANÇA... OS ENCONTROS E AS MEMÓRIAS DE BETH CARVALHO.

Brasil, 2022.  Direção de Pedro Bronz.  Documentário.  110 min.

 

Quem gosta de samba e da música popular brasileira certamente conhece a obra da “Madrinha do Samba”, Beth Carvalho (1946-2019).  Grande cantora, além de instrumentista e compositora, Beth sempre esteve muito ligada às escolas de samba e aos compositores populares que atuam nelas.  Ou os descobrira nas rodas de samba, pagode, batucadas pela vida.  Mesmo tendo começado, assim como tantos outros, pela bossa-nova, influenciada pelo som de João Gilberto.  Só que o sambão falava mais alto ao seu coração.  E lá ela dominava o espaço e encantava a todos.

 

Beth tinha uma outra coisa muito boa, que acompanhava a sua vida.  Ela gostava de registrar o seu trabalho, seus encontros, seus espetáculos, em vídeo e fotos.  Fosse em Super 8, VHS, mini-dv ou outra mídia disponível na época, ela guardava as gravações.  Chegou a ter um volume enorme de registros que exigiram um espaço especial para serem guardados.  Isso começou nos anos 1970.  Um material absolutamente precioso.

 

Foi esse acervo que deu origem ao documentário que rememora sua incrível trajetória artística, de onde são pinçados encontros com Nelson Cavaquinho, Cartola, Eliseth Cardoso, Clementina de Jesus, dona Ivone Lara, Zeca Pagodinho, Luiz Carlos da Vila, Jorge Aragão, Almir Guineto, Arlindo Cruz, Grupo Fundo de Quintal, Quinteto em Preto e Branco, Nelson Sargento, Noca da Portela e sua querida Estação Primeira de Mangueira, etc., etc..]


Com Nelson Cavaquinho


“Andança”, que dá título ao filme, foi uma música de muito sucesso, que alcançou o terceiro lugar no Festival Internacional da Canção de 1968, composição de Edmundo Souto, Paulinho Tapajós e Danilo Caymmi.  Uma entre as muitas lançadas por Beth, como “As Rosas Não Falam”, “Folhas Secas”, “Vou Festejar”, “Coisinha do Pai”, entre tantas outras que compunham LPs ou CDs, lançados ano a ano e em shows eletrizantes.

 

As gravações do filme são amadoras, Beth não era cineasta, e refletem as possibilidades tecnológicas do momento em que foram gravadas.  Constituem, no entanto, um acervo precioso e absolutamente encantador, que nos envolve todo o tempo, não importando os riscos e chuviscos que apareçam.  Que maravilha que Beth preservou o seu trabalho, para nós, para depois de ter partido desta terra.  Ficará para sempre na nossa memória.

 

À grande artista que foi Beth Carvalho se soma a cidadã, e sua participação política na sociedade brasileira, pela democracia, com sua visão progressista e popular, como era sua própria vida no meio do povo que batuca, canta, dança, desfila, discute e questiona, se alegra e ama.  Vale a pena revisitar Beth em suas andanças.



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