Antonio Carlos Egypto
O DEUS DO CINEMA (Kinema no Kamisama), Japão 2021, do
diretor Yôji Yamada, que tem 91 anos (nasceu em 1931) é, como o nome já indica,
uma homenagem ao cinema. O cinema
percebido até como um bálsamo, uma cura para problemas de difícil solução. Como o de Goh, apostador inveterado, que
perde tudo e está sempre à espera da bolada que vai saldar suas enormes
dívidas. Enquanto isso, a família sofre
e resolve confiscar o dinheiro da sua aposentadoria. Mas, sabendo do seu amor pelo cinema, mantém
a verba para que ele possa ver todos os filmes que quiser, retornar ao cinema
onde trabalhou com seu amigo Terashin, dono de uma sala e projecionista. Goh chegou a tentar ser diretor de cinema e
tinha engavetado um belo roteiro, chamado “O Deus do Cinema”. Esse roteiro, revisto e retrabalhado, pode
ser a sua tábua de salvação, desde que atualizado e modernizado, contando com a
nova geração representada por seu neto.
Revemos, então, todo o passado que deu origem a isso, enquanto a magia
do cinema e aspectos da história do cinema japonês clássico e suas estrelas são
mostrados com admiração. Yoshiko, sua
mulher desde há muito, também faz parte importante dessa história, dá o toque
não só romântico como de disputa, ciúme e rompimento, entre os amigos. Exploram-se, portanto, dois grandes momentos
da vida de Goh: o seu passado no cinema e o seu momento envelhecido, em que o
cinema volta a ocupar o primeiro plano na sua vida. Amor que é amor é assim: Goh queria morrer
numa sala de cinema, assistindo a um filme.
Fez-me lembrar do nosso Jô Soares, tão cinéfilo quanto, que preferiu
viver seus últimos dias em casa, vendo filmes, em vez de estar numa UTI,
isolado, entubado, com todos os equipamentos à disposição, mas infeliz e
prolongando algo já sem sentido. Com o
cinema,o sentido estaria lá até o último instante de vida. Com Kenji Sawada, Masaki Suda, Mel Nagano,
Nobuko Miyamoto, Keito Kitagawa. 125
min.
O
filme das Filipinas, LEONOR JAMAIS
MORRERÁ (Leonor Will Never Die),
retrata uma cineasta concebendo filmes de ação, que já tiveram muito sucesso,
mas hoje o negócio anda difícil.
Estimulada por um anúncio, ela retoma um roteiro inacabado daquele tipo
de filme popular, cheio de clichês, brigas, sopapos, violência, enfim, que deve
manter o jovem herói Ronwaldo intacto, apesar de tudo o que lhe acontece. O herói inabalável, assim como ela própria, a
cineasta Leonor Reyes. E não pensem que
é fácil, porque ela entra no filme que está criando, participa dele, mas sempre
escapa. Afinal, a criação está na cabeça
dela. Ela é transportada para dentro do
filme porque um aparelho de televisão cai na sua cabeça e ela fica em coma. É nessa condição que sonha, alucina, e tem de
resolver como caminhará e se encerrará a sua história. Personagens convivem com figuras da realidade
que aparecem transparentes na tela. Esse
jogo de metalinguagem está sempre lá.
Criação e criatura precisam se entender em meio aos cuidados
hospitalares, febre, medicamentos e tudo o mais. No papel de criadora, a saúde não lhe falta,
mas não se sabe até quando. Um roteiro
que vai se transformando em filme, o processo de criação acontecendo, uma vez
mais homenageia o cinema, ainda que esse cinema seja de quinta categoria. O filme LEONOR
JAMAIS MORRERÁ também se utiliza de imagens de mau gosto ou duvidosas e o
filme dentro do filme é de lascar. Mas
que é um produto original não há dúvida.
Podia ser bem mais elegante e sutil, porém, criatividade não lhe
falta. O filme é dirigido por uma jovem
cineasta filipina, Martika Ramirez Escobar.
É o seu primeiro longa-metragem.
Com Sheila Francisco, Bong Cabrera, Rocky Salumbides, Anthony
Falcon. 100 min.
@mostrasp
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