sexta-feira, 21 de outubro de 2022

FILMES SOBRE CINEMA NA # 46 MOSTRA

Antonio Carlos Egypto

 

 


O DEUS DO CINEMA (Kinema no Kamisama), Japão 2021, do diretor Yôji Yamada, que tem 91 anos (nasceu em 1931) é, como o nome já indica, uma homenagem ao cinema.  O cinema percebido até como um bálsamo, uma cura para problemas de difícil solução.  Como o de Goh, apostador inveterado, que perde tudo e está sempre à espera da bolada que vai saldar suas enormes dívidas.  Enquanto isso, a família sofre e resolve confiscar o dinheiro da sua aposentadoria.  Mas, sabendo do seu amor pelo cinema, mantém a verba para que ele possa ver todos os filmes que quiser, retornar ao cinema onde trabalhou com seu amigo Terashin, dono de uma sala e projecionista.  Goh chegou a tentar ser diretor de cinema e tinha engavetado um belo roteiro, chamado “O Deus do Cinema”.  Esse roteiro, revisto e retrabalhado, pode ser a sua tábua de salvação, desde que atualizado e modernizado, contando com a nova geração representada por seu neto.  Revemos, então, todo o passado que deu origem a isso, enquanto a magia do cinema e aspectos da história do cinema japonês clássico e suas estrelas são mostrados com admiração.  Yoshiko, sua mulher desde há muito, também faz parte importante dessa história, dá o toque não só romântico como de disputa, ciúme e rompimento, entre os amigos.  Exploram-se, portanto, dois grandes momentos da vida de Goh: o seu passado no cinema e o seu momento envelhecido, em que o cinema volta a ocupar o primeiro plano na sua vida.  Amor que é amor é assim: Goh queria morrer numa sala de cinema, assistindo a um filme.  Fez-me lembrar do nosso Jô Soares, tão cinéfilo quanto, que preferiu viver seus últimos dias em casa, vendo filmes, em vez de estar numa UTI, isolado, entubado, com todos os equipamentos à disposição, mas infeliz e prolongando algo já sem sentido.  Com o cinema,o sentido estaria lá até o último instante de vida.  Com Kenji Sawada, Masaki Suda, Mel Nagano, Nobuko Miyamoto, Keito Kitagawa.  125 min.

 




O filme das Filipinas, LEONOR JAMAIS MORRERÁ (Leonor Will Never Die), retrata uma cineasta concebendo filmes de ação, que já tiveram muito sucesso, mas hoje o negócio anda difícil.  Estimulada por um anúncio, ela retoma um roteiro inacabado daquele tipo de filme popular, cheio de clichês, brigas, sopapos, violência, enfim, que deve manter o jovem herói Ronwaldo intacto, apesar de tudo o que lhe acontece.  O herói inabalável, assim como ela própria, a cineasta Leonor Reyes.  E não pensem que é fácil, porque ela entra no filme que está criando, participa dele, mas sempre escapa.  Afinal, a criação está na cabeça dela.  Ela é transportada para dentro do filme porque um aparelho de televisão cai na sua cabeça e ela fica em coma.  É nessa condição que sonha, alucina, e tem de resolver como caminhará e se encerrará a sua história.  Personagens convivem com figuras da realidade que aparecem transparentes na tela.  Esse jogo de metalinguagem está sempre lá.  Criação e criatura precisam se entender em meio aos cuidados hospitalares, febre, medicamentos e tudo o mais.  No papel de criadora, a saúde não lhe falta, mas não se sabe até quando.  Um roteiro que vai se transformando em filme, o processo de criação acontecendo, uma vez mais homenageia o cinema, ainda que esse cinema seja de quinta categoria.  O filme LEONOR JAMAIS MORRERÁ também se utiliza de imagens de mau gosto ou duvidosas e o filme dentro do filme é de lascar.  Mas que é um produto original não há dúvida.  Podia ser bem mais elegante e sutil, porém, criatividade não lhe falta.  O filme é dirigido por uma jovem cineasta filipina, Martika Ramirez Escobar.  É o seu primeiro longa-metragem.  Com Sheila Francisco, Bong Cabrera, Rocky Salumbides, Anthony Falcon.  100 min.

 

@mostrasp

 

 

 

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