terça-feira, 18 de outubro de 2022

CINEMA PORTUGUÊS NA # 46 MOSTRA

 Antonio Carlos Egypto

 


O filme português RESTOS DO VENTO, dirigido por Tiago Guedes, nos põe em contato com uma realidade social marcada pela agressividade e pela hostilidade entre os membros de uma vila, no interior de Portugal.  Começa mostrando uma festa tradicional de rapazes correndo atrás das raparigas e desrespeitando-as.  São adolescentes estimulados pelos mais velhos, tratados de forma humilhante e agressiva, num contexto marcadamente machista, que inclui bebida e brigas, uma espécie de passagem para a vida adulta.  Eles estão aprendendo a se comportar como homens, no conceito local, mas escondidos por capuzes que lhes permitem cometer barbaridades sem serem necessariamente identificados.  O que começa assim, já se vê, não pode acabar bem.  Mágoas, rancores, opressão, exclusão, farão parte da vida dessas pessoas da pequena localidade por toda uma vida.  Pelo menos, para os que por lá ficarem.  Um crime, cometido muitos anos depois, se relaciona com essa festividade do passado, que segue se repetindo, para personagens que a vivenciaram naquele período.  Violência e crueldade fazem parte dessa história, claro.  Vingança, talvez.  Cães aparecem como elementos de intimidação, de proteção e de ataque.  A narrativa avança e propõe dilemas morais muito interessantes em discussão.  É um filme forte, pesado, mas muito bem construído.  Exige do espectador muita atenção a coisas que não se expõem de forma clara, é preciso ler nas entrelinhas.  Com Albano Jerônimo, Nuno Lopes, Isabel Abreu, João Pedro Vaz, Gonçalo Waddington, Leonor Vasconcelos.  126 min.

 


ALMA VIVA
, da diretora Cristèle Alves Meira, vai a um vilarejo nas montanhas portuguesas e, por meio da pequena Salomé, nos coloca em contato com o mundo das almas, dos demônios e das bruxas que, na verdade, estão em toda parte, nos mais insuspeitados espaços e pessoas.  Quando se manifestam, a maldade toma forma e aparece com força, destruindo não só reputações como os vínculos de toda uma família entre si e com a comunidade.  Um tema difícil de lidar, na perspectiva do realismo, que a produção dá conta e nos oferece, por exemplo, um fantástico percurso de uma procissão de enterro a pé, que se transforma num inferno, não por qualquer ação extraterrena, mas pela ação de pessoas aparentemente comuns, envenenadas pelo mal.  Ou o mal estaria na pessoa da defunta?  A fantasia interage com a realidade de modo inteligente e visualmente integrado nesse filme que representa Portugal na disputa pelo Oscar de filme internacional.  Com Lua Michel, Ana Padrão, Jacqueline Corado, Catherine Salée, Duarte Pina.  85 min.

 



Outro filme português/francês chamado A CRIANÇA (L’Enfant), dirigido por Marguerite de Hillerin e Félix Dutilloy-Liégeois, primeiro longa da dupla, vai ao século XVI, um período de domínio português, por consequência da expansão marítima.  Conta uma história complicada e pouco envolvente, com excesso de close-ups, sobre um jovem rapaz, Bela, e o seu amor, Rosa, que tentam, mas não conseguem, sair de Lisboa para amar em paz fora de lá, e das interferências em suas vidas, decorrentes da posição de ambos na sociedade da época.  Há outras subtramas.  O contexto político envolve também a Inquisição.  Mas o filme não decola em momento nenhum.  Parece uma coisa tão distante quanto o tempo longínquo a que se refere na narrativa.  Visualmente é bonito, com locações bem fotografadas e boa recriação de trajes de época.  Com Grégory Gadebois, João Arrais, Maria João Pinho, Inês Pires Tavares.  110 min.

 

@mostrasp


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