Antonio Carlos Egypto
O TERRITÓRIO, que foi o filme de encerramento do festival É TUDO VERDADE 2022, é uma produção Brasil, Dinamarca, Estados Unidos, dirigido pelo norte-americano Alex Pritz. Se passa em Rondônia, junto aos indígenas Uru-eu-wau-wau que, ao longo das décadas passadas, foram vendo o seu território minguar, até o momento atual, em que o espaço de floresta que ainda lhes cabe parece ser o mínimo para a própria sobrevivência. No entanto, um grupo de agricultores, grileiros, se apodera de uma área protegida dessa floresta, sem encontrar fiscalização ou controle dos órgãos do governo federal responsáveis por isso. Pior, no governo Bolsonaro eles se sentem vencedores, confiando na impunidade, mesmo sabendo que estão agindo abertamente contra a lei. Confiam que a própria lei e sua prática estão sendo mudadas, para favorecê-los, protegê-los.
O documentário de Alex Pritz convive tanto com os indígenas quanto com
os posseiros e fazendeiros. Percebe o
apego, respeito e proteção à floresta, que embalam a população originária
indígena dessa região de Rondônia. No
convívio com os invasores, encontra uma relação violenta com a terra, além do
negacionismo quanto à própria existência dos índios ali.
A
violência se materializa de forma muito concreta na morte de um jovem líder
indígena que ostentava o título de “protetor da floresta”. Suprema ironia. E quem teria de proteger a floresta não se
empenha em investigar mais essa morte anunciada, pelo conflito de interesses aí
envolvidos e pela diferença de poderes que os distingue.
Sem sentir que possam contar com o apoio oficial, os indígenas encontram
apoio em militantes ambientais e vão descobrindo os seus próprios caminhos. Com o auxílio de drones, celulares,
filmagens, eles encontram meios de produzir provas, denunciar e se defender por
conta própria, tentando expulsar os invasores, destruindo ou queimando cabanas
que eles erguem em meio à terra indígena.
É
dramático o que O TERRITÓRIO mostra. Não
que já não tenha sido relatado pelo jornalismo investigativo dos órgãos sérios
da mídia, da imprensa, televisiva ou pela Internet. Só que o convívio concreto, e de perto, com
os dois grupos traz uma emoção que ultrapassa em muito o noticiário sobre o
tema. A imersão nessa realidade causa
tanto desconforto que os números do desmatamento recorde da Amazônia dos
últimos anos até perdem parte da sua força.
E, olha, que esses números são assustadores. 83 min.
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