Antonio Carlos Egypto
A PROFESSORA DE VIOLINO (Das Vorspiel). Alemanha, 2020. Direção: Ina Weisse. Elenco: Nina Ross, Ilja Monti, Jens Albinus,
Simon Abkarian. 100 min.
“A Professora de Violino”, o título já
indica, tem na música clássica, a música de concerto, o seu foco. Trata-se de música muito elaborada, que exige
uma dedicação muito grande e constante por parte dos instrumentistas. Ao apreciarmos o desempenho de um virtuose, já sabemos que por trás
daquela arte está uma determinação e muitas horas de estudo diário, ou seja,
talento, mas muita transpiração também.
Num ambiente de conservatório,
trabalha Anna, Nina Ross em grande desempenho, violinista que não tem atuado
como concertista por algumas questões motoras, mas é uma exigente
professora. Procura extrair de seus
alunos o máximo, a ponto de tornar penosa a experiência desse aprendizado. É o que acontece com um aluno de ensino
médio, a quem ela se dedica bastante, por acreditar no talento dele.
A vida de Anna é recheada de música
também na família. Seu marido é luthier, construtor de
instrumentos. Seu filho menor também
estuda violino. O que parece ser um
mundo de arte e beleza por todos os lados, no entanto, é, para ela, desde
sempre, um mundo tenso.
A figura de Anna, desde as primeiras cenas de “A Professora de Violino”, é a de alguém que vive em tensão constante. Frustrações recentes, fantasias passadas não realizadas, talvez. Sobretudo, um modo de viver exageradamente a serviço da perfeição. Exigente demais para consigo mesma e para os alunos, o que é contraproducente, em termos pedagógicos. Ocorre que o ambiente em que ela trabalha também reforça isso. As exigências de seus colegas são similares. Há quem tenha, inclusive, mais rigidez nas performances cobradas dos alunos do conservatório do que ela.
Ao ver o filme, apreciamos a beleza da
música, mas sofremos com a personagem central e suas tensões. Fica claro que algo vai se romper, num
esquema como esse. Uma tragédia
anunciada acontece, envolvendo a relação carregada com seu aluno, que evolui,
enquanto seu filho vê com ciúme a atenção que ela dedica ao aluno. Essa é uma questão, mas as relações
familiares de Anna, tanto com o filho quanto com o marido, já estavam na mesma
ordem tensa em que ela se move no mundo antes disso.
A beleza da música não parece conviver
bem com tanta rigidez nos estudos e ensaios.
Como usufruir da arte, quando se está à beira de um ataque de
nervos? No fim das contas, embora a
música clássica seja a razão de ser do filme, o seu verdadeiro assunto é o
estado mental dessa professora, a sua dificuldade de encarar a vida com mais
leveza e, mais do que tudo, com afeto.
Quando falta amor, mesmo a arte sucumbe.
Seca, enrijece, se consome.
A trilha sonora de “A Professora de Violino” tem Paganini, Schubert, Bach, Brahms, Mendelssohn, Vivaldi e muito mais. A narrativa é convencional, sem inovações, mas flui bem.
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