Antonio Carlos Egypto
A competição de filmes de novos
diretores na 45ª. Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, dirigida àqueles
que estão realizando seu primeiro ou segundo longa-metragem, oferece sempre a
oportunidade de descoberta dos talentos que possam emergir daí. A primeira semana da Mostra é dedicada,
principalmente, à apresentação e votação pelo público desses novos filmes de novos
diretores e os mais votados serão submetidos à apreciação do júri da Mostra,
que indicará o vencedor do troféu Bandeira Paulista. A gente fica, então, de olho nas ostras, para
ver se encontra uma pérola. Já pude
abrir algumas dessas ostras, mas, por enquanto, não encontrei pérolas, não.
Um dos candidatos considerados fortes
dessa seleção seria PEGANDO A ESTRADA (Hit the Road), filme iraniano de Panah
Panahi, filho do grande diretor Jafar Panahi.
Ele se mostra, efetivamente, um diretor competente para criar
sequências, cenas e situações bem realizadas, com atores e atrizes se
destacando pelo bom desempenho. Ocorre
que seu filme, um road movie, deixa o
espectador completamente à margem, sem poder entender o que está acontecendo ou
o que vai acontecer. Que viagem é essa,
de uma família que se comporta de forma estranha, misteriosa, sendo mesmo
divertida e afetiva? Mas para onde e por
quê? Bem, claro que podemos supor que,
em virtude da censura no Irã, as coisas tenham de ser apenas sugeridas,
enevoadas. Mas não precisava também
quebrar tanto a linha de ação, criando tantos momentos de digressão quase
surreais e cenas totalmente inverídicas.
Vou dar um exemplo: a um dado momento, o carro da família pede ajuda a
outro veículo, para encontrar o caminho desejado. Enquanto a mãe conversa com o motorista que
oferece comboio para que não se percam, o filho pequeno, que não para nunca,
fala e grita o tempo todo, sobe na van do estranho e sua mãe concorda que ele
fique lá até o ponto de chegada.
Inacreditável, não? Por que isso
aconteceu? Era necessário criar uma
situação para que o filho maior, o pai e a mãe, conversassem longe do
menino. Confesso que a falta de sentido
que o diretor procura construir ao longo do desenrolar da narrativa, para nos
manter no suspense e no mistério (que ele não revela, por sinal), me
cansou. Lendo depois entrevista do
diretor, ele explica do que se tratava e aí a gente pode ver sentido no que não
tinha, aparentemente. Ou que poderia significar várias outras coisas. Isso é filme que precisa de bula para ser
compreendido. Quem sabe na próxima
tentativa... Elenco: Hassan Madjooni,
Pantea Panahiha, Rayan Sarlak, Amin Simiar.
93 min.
O filme alemão MADEIRA E ÁGUA (Wood and
Water), de Jonas Bak, nos põe em contato com a solidão dos tempos de
aposentadoria da senhora Anke. Disposta
a encontrar os filhos no verão, ela acaba, por circunstâncias, indo parar em
Hong Kong, onde seu filho agora vive. Em
pleno período de protestos diários no país, a narrativa nos mostra seus passos
e descobertas, enquanto seu filho não aparece.
Mas não explora o imenso potencial político da situação. Vai a Hong Kong filmar e mostra apenas a
mulher idosa, contornando os caminhos do protesto, sem se relacionar com ele. Assim
como os protestos impediram o filho Max de encontrá-la, ela agora aprende a se
virar sozinha por lá. Em última análise,
a situação política de Hong Kong virou apenas uma complicação para a mobilidade
das pessoas? Elenco: Anke
Bak, Ricky Yeung, Alexandra Batten, Patrick Lo, Theresa Bak. 79 min.
COISAS VERDADEIRAS (Trrue Things), do Reino Unido, trata da jovem Kate que, enquanto vive um cotidiano sem qualquer entusiasmo ou realização, se sente atraída por uma vida de aventuras, surpresas e tolerância com o descaso do possível par romântico, um ex-presidiário autocentrado e que curte todas. Vai precisar aprender a lidar com a autoestima, amadurecer, para encontrar caminhos que não a levem ao puro e simples fracasso. Nada de novo, nem empolgante, no filme de Harry Wootliff, que tem no elenco Ruth Wilson, Tom Burke, Hayley Squires. 102 min.
OS
INVENTADOS, filme
argentino dirigido por Leo Basilico, Nicolás Lollnginotti e Pablo Rodriguez
Pandolfi, explora mais uma vez no cinema o tema dos atores e atrizes tendo de
viver outras vidas o tempo todo, fingir sempre e a qualquer preço, num workshop de fim de semana. O filme até que cria alguma expectativa pelo
mistério dos concorrentes, que desaparecem um a um, mas a resolução final é
pífia e inconsistente. Elenco: Juan Grandinetti,
Verónica Gerez, Rosina Fraschina, Sebastián Godoy. 90 min.
Um verão na Córsega
UM
VERÃO NA CÓRSEGA (I Comete), da França, de Pascal
Tagnati, consegue interessar à medida que concretiza o clima modorrento das
pequenas cidades perdidas e a vida pouco estimulante de seus moradores,
especialmente os jovens, sem ter nada de relevante para fazer. Mostra um personagem interessante na figura
de um jovem negro, adotado, herdeiro de uma fortuna que lhe permite contribuir,
de algum modo, para o bem-estar de algumas pessoas e da comunidade. Mas o tempo passa e nada muda. Quem nunca saiu de lá e envelheceu se
acomoda, mas lamenta. Depois desse
verão, o que o futuro reserva a essas pessoas? Elenco:
Jean-Christophe Folly, Pascal Tagnati, Cédric Appietto, Apollonia Bronchain
Orsoni. 127 min.
@mostrasp
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