Antonio Carlos Egypto
A 200 METROS (200 meters). Palestina,
2020. Direção: Ameen Nayfeh. Com Ali Suliman, Anna Unterberger, Motaz
Malhees, Mahmond Abu Aita, Lana Zreik.
97 min.
A trama de “A 200 Metros” envolve
relações familiares, questões de saúde, dificuldades nos deslocamentos,
aspectos pessoais que perpassam por desconfianças e preconceitos. O eixo disso tudo, no entanto, é um só: as
barreiras – controles, muros – que separam e que limitam os palestinos em seu
próprio território, controlados por Israel.
Mustafá (o famoso ator palestino Ali
Suliman) é um palestino casado com uma mulher israelense e com três
filhos. Nessa circunstância, ele teria o
direito de adotar identidade israelense, o que lhe permitiria liberdade de
movimentos. Mas ele não quer abrir mão
de sua origem palestina. É, inclusive,
criticado por isso. Com essa decisão,
ele fica dependente de um cartão de circulação, que deve ser constantemente
renovado, e da autorização de entrada em Israel para trabalhar, por exemplo.
A mulher e as crianças podem circular
mais facilmente, mas o trabalho dela implica viver em Israel. Enquanto isso, ele permanece na Cisjordânia,
com a mãe. A família se comunica à
distância, por luzes, na maior parte dos dias, quando ela e as crianças não
vêm. São só 200 metros de
distância. Entre eles, uma fronteira e
um muro eletrificado.
Apesar de passar por controles
diversos, digitais, detecção de metais, etc., ele pode ir a Israel desde que
esteja com o cartão de passe em dia. Mas
o que pode acontecer diante de um imprevisto, se ocorrer um esquecimento? Ou seja, se o cartão não tiver sido
atualizado, como deve acontecer periodicamente?
Bem, será necessário, então, realizar uma aventura “ilegal” de 200 kms
para chegar do lado de lá.
Com essa premissa, o filme acompanha a
viagem de Mustafá em busca de sua família, especialmente de seu filho que
precisa dele num momento crítico. Além
da mulher e das outras duas crianças, suas filhas, que o esperam
ansiosamente. A ansiedade dele também é
grande, porque se trata de um pai presente e amoroso.
“A 200 Metros” se torna, assim, um
drama familiar, com conotações políticas intensas, e é também um road-movie e uma aventura. Elementos suficientes para interessar e
envolver o espectador. Além disso,
entramos num contexto cultural bem diferente do nosso e aprendemos, convivendo
com diversos personagens que circulam na região, reunidos num transporte
“alternativo”, sujeito a todo tipo de dificuldades. Por ali aparecem até mesmo uma cineasta e
turista alemã e seu namorado de origem palestina, realizando filmagens.
A narrativa deixa algumas coisas no
ar, não amarra tudo o que poderia e deveria, sendo linear, como é o caso. Ainda assim, o conjunto é bem convincente, a
produção é boa, a direção, segura, e o elenco, competente. Vale a pena conhecer o filme, escolhido pela
Jordânia para concorrer ao Oscar 2021 de filme internacional, e acompanhar a
Mostra, que sempre traz produtos atraentes e variados sobre o mundo árabe, o
que acrescenta bastante em termos de informação e de reflexão. E em termos de diversão, também.
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