A 43ª. Mostra de Cinema Internacional de São
Paulo apresentou em sua programação mais de 300 filmes. Eu consegui ver 60 deles, no período de um
mês, se considerarmos não só o tempo oficial do evento, mas também a
repescagem, além das cabines de imprensa que aconteceram antes do início da
Mostra. Ainda assim, isso representa 20%
dos filmes exibidos. Claro que procurei
ver aqueles que me pareceram mais importantes, seja pelos prêmios, pelas
indicações ao Oscar de filme internacional, seja pelo diretor, pela temática,
pelo país de origem ou, ainda, por se tratar de um filme de destaque prestes a
estrear nos cinemas. Nem isso pode garantir
muita coisa para se fazer uma avaliação global da Mostra. Enfim, com tantos títulos, ela será sempre
uma amostra parcial e personalizada do conjunto.
Dito isso, parece bem evidente na presente
Mostra o crescimento da força das mulheres na criação cinematográfica. Elas estão, crescentemente, à frente de
grandes projetos, dirigindo e produzindo filmes de peso, que obtêm premiações
importantes, êxitos de público e de crítica.
Se elas sempre foram estrelas de primeira grandeza diante das câmeras, como
atrizes, ou com destaque em funções complementares, como figurinistas, por
exemplo, não resta dúvida de que vêm conquistando
todos os espaços de poder e decisão na sétima arte, como acontece em todas as
áreas da sociedade. O que é muito bom de
se constatar.
Ao mesmo tempo, muitos filmes, e não só os
feitos por elas, têm de reconhecer que a opressão às mulheres é ainda muito
forte, em várias partes do mundo, e o machismo atávico parece estar em todo
lugar. A consciência de que a luta tem
que continuar e ainda há muito a ser transformado e conquistado, no entanto, é
cada vez mais clara e disseminada. O
feminismo nunca esteve tão forte e tão presente como agora. Os resultados são perceptíveis no cinema.
Há muito mais opressões que o cinema continua
registrando.. As guerras, que recrudescem, nunca cessam, produzem sofrimentos
absurdos. O drama dos refugiados, dos
imigrantes que fogem das guerras, mas também das perseguições, da fome e da
falta de perspectivas. Esse é um tema
recorrente, que a Mostra de Cinema ressalta já há muitos anos. O que mudou é que cresceram a intolerância e a
rejeição à acolhida dos refugiados e ampliou-se espaço para pensamentos e ações
de extrema direita, que os penalizam pelas dificuldades econômicas da
atualidade. Tudo ficou ainda mais tenso,
vários filmes mostram personagens sinistros, que acabam tornando tudo cada vez
mais difícil.
Questões identitárias, étnicas, raciais e da
diversidade em todos os sentidos, ocupam largos espaços das tramas ficcionais
atuais. A prioridade do grave problema
do meio ambiente, que põe em risco a vida no planeta, está, evidentemente,
contemplada em muitos filmes contemporâneos, exibidos na Mostra.
Também há espaço para o humanismo, para as
questões existenciais, para o bom humor.
E há até quem faça piada ou narrativa romântica com a própria guerra e
essa intolerância toda. Também é uma
forma de resistência. Assim como a
fantasia, o non sense, o absurdo, o
inconcebível. Tem de tudo. E é bom que seja assim. A diversidade de existências e de expressões
é uma marca do mundo que o cinema registra, ficciona, reinventa,
ressignifica. Ver tantos filmes de uma
vez só, de todas as partes do mundo, ajuda a compor um quadro da atualidade,
gostemos ou não do que estamos a ver.
A Mostra Internacional de Cinema de São Paulo
sempre privilegiou o cinema artístico, de reflexão, sobre a produção meramente
de entretenimento. É uma característica
que ela deve, mesmo, preservar, porque cumpriu, e ainda cumpre, importante
papel na oxigenação e diversificação do mercado exibidor, oferecendo alternativas
qualificadas à população que frequenta os cinemas, alcançando também as demais
plataformas de exibição, por consequência.
Grata Egypto. Como compartilhei teus comentarios sobre a Mostra, somos muitos , cá do meu lado, que puderam usufruir. Aguardemos os que entraram no circuito. Abracos. Aurora
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