A ODISSEIA DOS TONTOS (La Odisea de los Giles). Argentina,
2019. Direção: Sebastián
Borensztein. Com Ricardo Darín, Andrés
Parra, Luis Brandoni, Chico Darín, Verónica Llinás. 116 min.
Na América Latina, os
planos econômicos que visam a salvar a economia acabam sempre estourando do
lado dos mais fracos e que já estariam acostumados a serem ludibriados, como
tontos. Aqui no Brasil, o plano Collor
foi um exemplo dramático de situações terríveis, provocadas pelo confisco do
dinheiro poupado pelo cidadão. Na
Argentina, em 2001, tivemos o corralito,
que segurou os dólares, limitando drasticamente o seu uso e transformando-os em
pesos, que perdiam valor. Como também
aconteceu – e acontece – por aqui, informações privilegiadas de pessoas
poderosas e dos bancos favorecem uns e acabam com a vida de outros.
Foi nesse contexto de crise
econômica que desempregados e
subempregados, em busca de sobrevivência, conseguiram juntar dólares, para
reformar e reavivar uma cooperativa agrícola, até que o corralito, associado a uma manobra bancária escusa, acabou com a
economia deles de vez. Só que, agora,
eles disseram “Chega!” e prometeram fazer de tudo para encontrar o dinheiro que
lhes foi roubado, arquitetando uma revanche dos perdedores, os tontos.
Se o filme começa bem
político, acaba se transformando em uma aventura em forma de comédia. Mas que mantém o espírito crítico e a ironia,
associados a uma forte raiva de se sentir, mais uma vez, passado para
trás.
Tudo acontece numa pequena
vila da província de Buenos Aires, onde afinal todo mundo acaba se conhecendo e
sabendo de tudo que se passa. Desse
modo, as estratégias possíveis acabam
sendo ampliadas e viabilizadas, embora as consequências também o sejam. A trama
é muito bem construída, revelando, uma vez mais, que a Argentina tem escritores
e roteiristas muito bons para relatar histórias e relacioná-las ao ambiente
social, econômico e político do país.
O diretor Sebastián
Borensztein já nos deu o delicioso “Um Conto Chinês”, em 2011, e dirigiu também
um episódio de “Relatos Selvagens”, de 2014.
Sucessos de público no Brasil.
Aqui, ele trabalha com um elenco magnífico, liderado por Ricardo Darín,
com participação de seu filho, Chico Darín, e que tem Luis Brandoni, Andrés
Parra, Verónica Llinás e muitos outros bons atores e atrizes. Isso resulta num filme bem equilibrado,
convincente nas atuações e com um bom ritmo, capaz de envolver o espectador na
história.
“A Odisseia dos Tontos” foi
escolhido pela Argentina para representar o país na disputa pelo Oscar de filme
internacional. A Argentina costuma indicar
produtos fortes nessa disputa, desta vez, porém, acho mais difícil que obtenha
êxito, porque há grandes filmes na competição, inclusive o brasileiro “A Vida
Invisível”, de Karim Ainöuz, que me parece superior (sem bairrismo), assim como
“Parasita”, de Bong Joon-ho, da Coreia do Sul, e “Dor e Glória” de Almodóvar, entre
outros.
A primeira exibição de “A
Odisseia dos Tontos” no Brasil se deu na 43ª. Mostra Internacional de Cinema de
São Paulo.
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