CORINGA (Joker). Estados Unidos, 2019. Direção: Todd Philips. Com Joaquin Phoenix, Zazie Beetz, Robert De
Niro, Marc Maron, Frances Conroy. 122
min.
Coringa, como é do conhecimento geral, é o
poderoso e misterioso vilão das histórias do Batman. É um desses vilões que fazem sucesso junto ao
público. Por isso, explorar as suas
origens pode ser uma tarefa atraente. O
filme de Todd Philips, que leva o nome do personagem, vai nessa linha.
“O difícil de ser um doente mental é que todo
mundo espera que você aja como se não fosse”, frase dita pelo personagem no
filme, pode ser o começo de tudo para entender o Coringa, ou melhor, esta mais
recente versão cinematográfica dele.
Acometido por uma risada assustadora, o filme nos informa que é um riso
incontrolável que está em desacordo com os sentimentos ou a situação vivida.
As feições embranquecidas ou com máscara
remetem à figura do palhaço, que seria sua ocupação inicial. E é na condição de palhaço que ele mata e
capitaneia ações violentas e destrutivas, que alcançam toda a Gothan City. É, digamos, a vingança pela rejeição e maus
tratos sofridos por toda a vida e sempre reiterados em sociedade.
A revolução dos palhaços, porém, tem outras
dimensões. A cidade vive abandonada,
cercada de lixo por todos os lados, fruto de uma greve nunca resolvida, e
espalhando super ratos por todos os lugares.
Ou seja, trata-se de uma Gothan City maltratada pelos políticos e,
ainda, sem sombra da presença de um Batman para salvá-la.
História em quadrinhos à parte, “Coringa”
reflete o mal estar do nosso mundo, em que a violência está onipresente e, em
alguns casos, pode aparecer como solução para alguma coisa. Tudo pode começar com um doente mental
ressentido, a quem alguém entrega uma arma, com a pretensão de ajudá-lo a se
defender das pessoas que o atacam. Soa
familiar? Claro e, também, assustador. Não só aqui, mas nos Estados Unidos.
O lançamento do filme por lá está sendo
cercado por cuidados, na suposição de que sua violência pudesse estimular
atiradores, como já os há às pencas no país.
Já tem armas, precisam do estímulo do cinema? Não creio.
Desde “Pequenos Assassinatos”, filme de Alan Arkin de 1971, está posta a
prática do assassinato em massa, sem motivo palpável, como uma chaga
contemporânea. Ao lado do terrorismo,
este com motivações políticas, econômicas, culturais e religiosas detectáveis. Lobos solitários, excluídos e que se excluem,
vivem aparecendo, fato revelador da solidão e da exclusão sociais. Se esses lobos forem capazes de inflamar
multidões, está posto o clima do caos.
Esse é o caso do “Coringa”.
O filme de Todd Philips é surpreendentemente
forte e impactante. Não se sai do cinema
sem sentir o peso da questão. O
espectador sai mexido, quer queira, quer não.
Quem for ao cinema só pensando em super-heróis e batalhas com os vilões
de costume vai se decepcionar. “Coringa”
tem muito mais força e reflexão do que isso.
Não por acaso, venceu o Leão de Ouro do Festival de Veneza 2019.
Entre os méritos do filme é preciso destacar,
de modo evidente e reluzente, o desempenho de Joaquin Phoenix. Ele é perfeito para o papel de Arthur Fleck,
o Coringa. Ou ele se faz perfeito para
todos os papéis: é um grande ator. Até
Robert De Niro desaparece no filme, diante da atuação de Joaquin Phoenix. Só pelas gargalhadas deslocadas da ação já se
pode ver a capacidade de comunicação que ele tem. Sem ele, o filme talvez fosse pouca coisa,
com ele, ganha importância. Todo o elenco
também dá bem conta do recado, levando a ação de um filme polêmico, palpitante,
para o público.
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