INEZITA.
Brasil, 2018. Direção: Hélio
Goldsztejn. Documentário. 85 min.
Inezita Barroso (1925-2015) é uma figura
portentosa na história da música popular brasileira. Portentosa parece um
adjetivo apropriado para designar a cantora de voz firme, forte, afinada, de
timbre marcante e presença exuberante, que descobriu e construiu um repertório
de canções inigualável. Samba, música
folclórica, regional e, sobretudo, o caipira de raiz, são marcas do seu
trabalho.
Na TV por 35 anos, comandou o “Viola, Minha
Viola”, programa da TV Cultura, dedicado à chamada música caipira de raiz, em
que não cabiam guitarras elétricas, nem mesmo baterias e teclados. E os astros do comercialíssimo sertanejo
universitário não tinham vez, a menos que fossem cantar ou tocar suas violas no
estilo tradicional. Isso poderia dar a
impressão de uma coisa conservadora ou intolerante, mas não se tratava disso e,
sim, de preservação cultural, num espaço único, aberto pela comunicação de
massa. E que Inezita soube manter e
solidificar ao longo de tanto tempo, na maior dignidade, até o fim.
Inezita Barroso, em sua vida pessoal e
artística, foi uma pioneira, uma mulher que teve de abrir portas com
dificuldades, numa época em que ser artista de rádio, atriz de cinema, como ela
foi, era abominável para pessoas do sexo feminino, bem-nascidas, como ela. Ao
desbravar esses horizontes proibidos, ela abriu avenidas para que as mulheres
pudessem se expressar artisticamente e ocupar os espaços devidos e merecidos,
na música caipira e na arte em geral.
Ela foi mesmo muito ousada. Sua primeira gravação já trazia a antológica
“Moda da Pinga” (Marvada Pinga), que falava coisas como “aqui mesmo eu bebo,
aqui mesmo eu caio”. Imagine! Foi a primeira a gravar “Ronda”, de Paulo
Vanzolini, produtor do seu disco. Foi em
busca do folclore e das expressões musicais regionais por todo o país e cantou
nossas maravilhas. Alguns exemplos:
“Lampião de Gás”, “Peixe Vivo”, “De Papo pro Á”, “Chico Mineiro”, “Azulão”,
“Prenda Minha”, “Fiz a Cama na Varanda”, “Tristezas do Jeca”, “Maringá”, “Meu
Limão, Meu Limoeiro”, “Luar do Sertão”, “Adeus, Minas Gerais”, para lembrar
algumas belas interpretações dela.
O documentário “Inezita”, dirigido por Hélio
Goldsztejn, com roteiro de Fábio Brandi Torres, faz jus à importância artística
de Inezita Barroso e conta com participações que enriquecem sua história, com
comentários, casos, relatos. Lá estão
Ruth de Souza, Eva Wilma, Nicette Bruno, Renato Teixeira, Ary Toledo, Wandi
Doratiotto, Roberta Miranda, as irmãs Galvão, Zuza Homem de Mello, José
Hamilton Ribeiro, o produtor musical Pelão, outros cantores e violeiros, a
filha Marta e as netas Paula, Cristina e Fernanda, compondo um painel da vida e
da obra de Inezita.
Podemos chamar esse documentário de chapa
branca? Talvez. Mas é uma homenagem mais do que merecida a
essa grande artista do nosso tempo, que nos deixou um legado
impressionante. É para aplaudir, mesmo!
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