Antonio Carlos Egypto
UMA NOITE DE 12 ANOS (La Noche de
12 Años). Uruguai, 2017. Direção: Alvaro Brechner. Com Antonio de la Torre, Alfonso Tort, Chino
Darín, Soledad Villamil. 123 min.
Nos anos 1960, 1970 e 1980, pipocaram ditaduras militares por toda a
América Latina. Contavam com apoio civil
relevante, internamente, e apoio decisivo, internacional, em especial dos
governos dos Estados Unidos, que atuavam como financiadores e capacitadores das
ações de repressão. O que se viu no
Brasil por longos 21 anos aconteceu no mesmo período, ainda que por menos
tempo, na Argentina, no Chile, no Uruguai. Os níveis de violência, tortura e morte, dos
opositores variam bastante, mas os métodos se assemelham. Vivíamos o mesmo período de trevas e
supressão da democracia, em todos os lugares.
Assim como havia o terrorismo de Estado, também se desenvolveu a luta
armada de resistência. O padrão de
resposta à opressão também variou muito, mas com elementos comuns. No caso uruguaio, foram de 12 para 13 anos de
ditadura, de 1972 a 1985, e a resistência armada foi protagonizada por um forte
e ousado grupo de guerrilheiros urbanos, do movimento de libertação nacional,
conhecido como Os Tupamaros.
O filme “Uma Noite de 12 Anos” trata da prisão e sequestro de três
membros dos Tupamaros, que estiveram nas mãos dos militares nesse período. A saber: José Mujica, o Pepe (Antonio de la
Torre), que acabaria sendo eleito presidente do Uruguai em 2010, Eleuterio
Fernandez Huidoro (Alfonso Tort), que depois foi senador e ministro, e o
jornalista e escritor Maurício Rosencof (Chino Darín).
A prisão que eles amargaram por esses 12 anos é algo absolutamente
inominável, como mostra o filme do diretor uruguaio, que vive na Espanha,
Alvaro Brechner. A opressão é absoluta,
desmedida. As condições de
encarceramento em isolamento, desumanas e degradantes, sem nenhum respeito aos
direitos humanos. Numa situação tal que
é um milagre conseguir sobreviver sem elouquecer.
O filme mostra claramente esse dia a dia abominável, em que a tortura
psicológica atua e complementa a tortura física, nas condições mais humilhantes
que o ser humano pode conceber. Também
mostra os poucos respiros que surgem na convivência humana, mesmo nessas
condições. Inclui imagens de memória,
sonho ou imaginação, que aliviam a carga dramática. Mas faz um retrato da desumanidade que é
assustador.
Como foi possível que todo aquele sofrimento pudesse gerar uma figura tão
cativante quanto o presidente Pepe Mujica?
É absolutamente incrível!
Assistir a “Uma Noite de 12 Anos” é politicamente recomendável, para
entendermos a que ponto pode chegar o autoritarismo de um regime de força. Ainda que o filme seja sofrido e pesado e não
tenha uma intenção de exploração histórica do período, nem faça referência ao
que estava acontecendo tão perto quanto o regime de terror de Pinochet no
Chile, por exemplo.
A entrega dos atores às filmagens
das condições do cárcere ilegal compõe um retrato realista, que acaba tornando
tudo muito claro e didático. Por se
tratar de uma situação extrema, a que nenhum ser humano pode ser
submetido. Mas que continua acontecendo
pelo mundo, em meio às guerras e perseguições de toda ordem. Resta-nos lutar pela preservação da democracia,
para que, ao menos, possamos usufruir de um convívio civilizado que respeite a
vida, a integridade e a dignidade das pessoas.
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