Antonio Carlos Egypto
Aí vão mais alguns filmes da 42ª. Mostra
Internacional de Cinema de São Paulo que merecem atenção.
EM CHAMAS |
EM
CHAMAS, vencedor do Prêmio da Crítica em Cannes, dirigido
por Lee Chang-Dong, da Coreia do Sul, é um filme enigmático, que exige a
atenção do espectador o tempo todo. O
personagem Jongsu, que trabalha com entregas de produtos, é um jovem que não
parece se situar, nem em relação a si mesmo, nem em relação ao mundo que o
cerca. Reencontra uma garota que já
morou na sua vizinhança, Haemi, que lhe pede que dê comida a seu gato, que
nunca aparece, enquanto ela viaja à África.
Ela volta, ao lado do jovem Ben, um rico que não se sabe do que vive,
que queima celeiros. Ou seja, tudo muito
estranho, misterioso. No entanto,
incrivelmente provocador e sedutor. O
diretor do belo “Poesia”, de 2010, que foi ministro da Cultura e do Turismo da
Coreia do Sul, mostra o seu talento como um cineasta que trabalha com camadas
do real e do mundo psíquico, que surpreendem a cada passo. Um filme inteligente, que mostra que o mundo
e cada pessoa são coisas muito mais complexas do que parecem. 148 min.
INFILTRADO
NA KLAN, de Spike Lee, dos Estados Unidos, é um filme forte,
vigoroso e intenso, que num thriller emocionante desvenda o que é a organização
racista Ku Klux Klan. O detetive negro
Ron Stallworth, da polícia do Colorado, consegue, com a ajuda de um colega
branco, infiltrar-se na Klan e identificar seus métodos violentos de exercer a
supremacia branca sobre os negros e os judeus, além de impedir que uma ação
terrorista do grupo atingisse um evento black power, nos anos 1970.
Spike Lee, com força total, refletindo sobre os tempos de Trump, que
aparece no final, assim como David Duke, que é personagem do filme. Torna-se especialmente atual para nós,
considerando que David Duke, ex-líder e uma das faces públicas da Ku Klux Klan,
disse à BBC Brasil, na semana passada, que “Jair Bolsonaro soa como nós”,
embora critique a proximidade dele com Israel.
Grande prêmio do Júri em Cannes.
135 min.
INFILTRADO NA KLAN |
A
CASA QUE JACK CONSTRUIU, do ao mesmo tempo brilhante e
polêmico diretor dinamarquês Lars von Trier, é um belo trabalho cinematográfico. No entanto, como de costume no caso dele,
passa dos limites. Para contar a
história do serial killer que cultivou o
prazer de assassinar pessoas durante doze anos impunemente, ele carrega no
excesso e na crueldade. Podem imaginar
que a tal da casa que ele construiu é uma construção macabra. Por outro lado, o inferno nunca pareceu tão
bonito no cinema. Provavelmente, vai
produzir reações polarizadas: alguns vão adorar, outros vão detestar. 155 min.
O
TERMÔMETRO DE GALILEU é um documentário dirigido pela
portuguesa Teresa Villaverde, que está no Júri Internacional da Mostra. O filme, no entanto, é falado em italiano,
filmado na região do Piemonte, abordando a família do cineasta Tonino De
Bernardi. A vida e a arte que perpassam
a existência dessas pessoas são mostradas por Teresa Villaverde de modo pouco
convencional, quase experimental, na busca por imagens que exploram cores,
detalhes, texturas, além de textos biográficos e citações literárias. 105 min.
MALILA:
A FLOR DO ADEUS, da Tailândia, segundo longa de Anucha
Boonyawatana, é um filme que explora uma relação homoerótica e a associa à
morte, aos espíritos e, sobretudo, à natureza.
A inspiração desse romance, que ultrapassa a vida e assume outra forma
depois da morte, nos remete aos grandes trabalhos de Apichatpong Weerasethakul,
que podem ter sido sua inspiração. Claro
que aqui o resultado é muito mais modesto.
Porém, a temática parece ter muito a ver com o próprio país e a sua
visão de budismo. O ritmo é lento e as
imagens de natureza, muito bonitas. É
sempre uma oportunidade para ver o cinema que se faz em partes do mundo a que
temos pouco acesso. 96 min.
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