Antonio
Carlos Egypto
EGON SCHIELE –
MORTE E DONZELA (Egon Schiele - Tod und
Mädchen). Áustria,
2016. Direção: Dieter Berner. Com Noah Saavedra, Maresi Riegner, Valerie
Pachner, Marie Jung, Elisabeth Umlauft.
110 min.
Egon Schiele (1890-1918) viveu pouco, apenas
28 anos, mas produziu uma obra pictórica grande, importante e inovadora. O pintor austríaco do começo do século XX é
considerado um nome de destaque do expressionismo. Os desenhos e pinturas em que efeitos
distorcidos são explorados foram, na grande maioria dos casos, nus
femininos. E ele tinha como modelos
garotas muito jovens, a começar por sua própria irmã, sua primeira modelo. A ênfase não só na nudez, mas,
principalmente, na expressão erótica das jovens parece indicar tendência a pedofilia, não no sentido de abuso sexual, mas
de atração por meninas novas.
O convívio com essas meninas que frequentavam
sua casa, seu ateliê, ao lado do erotismo do trabalho, acabou lhe valendo um
processo e uns dias de cadeia, em 1912, pela acusação de imoralidade e
inadequação da obra, como ofensiva para as crianças que a ela estavam expostas,
quando não eram os próprios modelos. O
desfecho poderia ter sido bem pior se a suposta perda da virgindade delas
tivesse sido provada, o que não aconteceu.
A obra vigorosa e provocativa, para alguns
francamente pornográfica, aí está, permanecendo para a posteridade. O talento é evidente. Já era no seu curto tempo de existência para
os que conheciam as artes plásticas.
Caso de seu contemporâneo Gustav Klimt (1862-1918), o grande pintor
simbolista austríaco, que teria sido incentivador de Schiele, comprado seus
trabalhos, lhe apresentado pessoas influentes e lhe arranjado algumas
modelos. Quase trinta anos mais velho,
Klimt já era um artista de peso, a essa altura.
Curiosamente, Schiele e Klimt vieram a falecer no mesmo ano, que marcava
o fim da Primeira Guerra Mundial.
O filme austríaco “Egon Schiele – Morte e
Donzela”, dirigido por Dieter Berner, é uma boa cinebiografia do pintor. Tenta recriar o clima de sua vida e mostra um
pouco da sua obra. Tem sequências muito
bonitas e bem filmadas, um elenco jovem que não chega a brilhar, mas atua com
empenho, e explora a nudez e o erotismo que combinam com o trabalho do
pintor. Não vai mais fundo nos
questionamentos que a vida e a obra de Egon Schiele suscitam, mas traça um
retrato razoável disso.
Um filme anterior sobre o mesmo pintor,
“Excesso e Punição”, de Herbert Vesely, de 1981, com Mathieu Carrière e Jane
Birkin, era mais forte e sombrio, no retrato de Egon Schiele. Não chegou a obter sucesso, talvez por ser
menos sedutor e de ritmo lento. Eu diria
que os dois filmes se complementam, ao tentar trazer para um público mais amplo
a história e o trabalho do jovem Schiele, que se despediu da vida por conta da
gripe espanhola. O pai dele morrera de
sífilis. Tempos em que a medicina ainda
podia pouco e a inevitabilidade da morte em idade precoce se impunha.
O subtítulo do filme de Dieter Berner: “Morte
e Donzela” faz referência a um quadro famoso, de 1915-16, assim denominado,
incluindo os artigos.. A morte e a donzela é
um motivo renascentista, aqui explorado com um casal entre lençóis, visto de
cima, envolvido por formas que parecem agitadas, remetendo à ideia de morte.
O filme, bem realizado, é uma oportunidade
para que, quem não conhece, entre em contato com a arte de Egon Schiele. E quem já o admira possa conhecer algo mais
de sua vida e obra. Vale por isso.
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