Antonio Carlos
Egypto
O FANTASMA DA SICÍLIA (Sicilian Ghost Story).
Itália, 2017. Direção: Fabio
Grassadonia e Antonio Piazza. Com Julia
Jedlikowska, Gaetano Fernandez, Corinne Musallari, Andrea Falzone, Lorenzo
Curcio. 122 min.
O ponto de partida do filme “O Fantasma da Sicília”
não poderia ser mais ancorado na realidade.
Aborda o sequestro e morte, com requintes de crueldade, do adolescente
Giuseppe (Gaetano Fernandez), de 13/14 anos, por ser filho de um membro da
máfia siciliana, que se converteu em informante da polícia, fato real ocorrido
numa pequena cidade da região, nos anos 1990, que deixou uma comunidade inteira
amedrontada e sob o jugo da Cosa Nostra.
A forma como essa história é trabalhada pelos
diretores Fabio Grassadonia e Antonio Piazza nos leva ao terreno da fábula, em
que a fantasia, a imaginação e o desejo se mesclam de tal maneira aos fatos que
tudo se torna indistinguível.
Da mesma forma, o tempo não é o tempo real dos
acontecimentos, mas o que habita o psiquismo dos personagens, em especial, o de
Luna (Julia Jedlikowska), a adolescente, amiga de Giuseppe e candidata a ser
sua namorada, que não se conforma com seu desaparecimento. É por meio dela que vivemos a perplexidade da
perda, acoplada à fantasia afetiva, amorosa, do despertar do desejo, e à raiva
pela ausência de respostas efetivas por parte das pessoas com quem ela convive,
em casa, na escola, na rua.
Na imaginação, contudo, as coisas acontecem, ou
poderiam acontecer, se os ditames da realidade não se impusessem,
inexoravelmente. A violência do real se
opõe à fantasia, seja como desejo de amor e interação, seja como meio de escape
e salvação.
“O Fantasma da Sicília” apresenta um esmero técnico,
na construção dos planos e sequências, na colocação da câmera, nos belos
enquadramentos, nas locações e nos efeitos que cria, buscando transmitir o
clima fantasmagórico e de suspense, que foi o caminho escolhido para refletir
sobre uma questão tão dolorosa. O som
tem um papel fundamental nisso. Ele é
marcante em todas as cenas, trazendo elementos que nos permitem viver
emocionalmente a tragédia de Giuseppe e de Luna. A música é parte dessa sonoridade, sem se
destacar como tal. E o silêncio acaba
sendo muito notado e intenso, quando aparece.
Um bom elenco sustenta essa narrativa
convincentemente. O ritmo do filme é
lento e a intensidade das emoções, baixa, o que acaba por acentuar a força e o
significado do que está sendo mostrado na tela.
Um bom trabalho do cinema italiano atual, que continua se ressentindo da
comparação com o cinema que a Itália praticou nos anos 1960, 1970, que já foi o
melhor do mundo.
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