sábado, 24 de junho de 2017

UM INSTANTE DE AMOR

  
Antonio Carlos Egypto




UM INSTANTE DE AMOR (Mal de Pierres).  França, Bélgica, 2016.  Direção: Nicole Garcia.  Com Marion Cotillard, Louis Garrel, Alex Brendemühl. 120 min.



Distúrbios mentais podem trazer comportamentos extremados, contrastantes e mesmo opostos, na mesma pessoa, como, de um lado, a exacerbação do desejo, de outro, o isolamento, a depressão, ou o binômio agressividade e apatia.  E, ainda, serem recheados de sentimentos persecutórios e a presença de delírios ou alucinações.  Personagens assim costumam ser muito explorados pelos roteiros cinematográficos em filmes de mistério, suspense, fantasia ou terror, mas é menos frequente encontrá-los nas histórias de amor.

A personagem Gabrielle, magnificamente interpretada por Marion Cotillard, em “Um Instante de Amor”, de Nicole Garcia, é uma figura assim, cheia de contrastes e incongruências, com reações que escapam ao seu próprio controle e surpreendem os que com ela convivem.




Os pais dela buscam acalmar seu furor por meio de um casamento arranjado, que vai complicar as coisas, envolvendo um contrato, digamos, alternativo, que colocará em jogo a vida sexual, a questão da gravidez e até mesmo a do aborto. O marido, o pedreiro José, em muito bom desempenho de Alex Brendemühl, entra no jogo, mas mesmo assim sofre consequências inesperadas e doloridas para sua vida.

O destino de Gabrielle acaba sendo um sanatório, que se baseava na cura ou no alívio, proporcionado por águas termais.  A razão desse rumo seriam dores renais, um mal de pedras do título original de Milena Agus, Mal de Pierres, que inspirou “Um Instante de Amor” e que a personagem apresentaria.  Algo como o deslocamento do problema mental para um elemento físico do corpo, este mais possível de admissão e tratamento do que a “loucura”.   Lá, Gabrielle conhece um militar, o tenente André, papel de Louis Garrel, doente em estado terminal.  E dessa relação algo importante surgirá.




O que é objetivo ou subjetivo nessa história acabará sendo a grande questão do filme, uma vez que esses limites estão borrados pelas características da personagem de Gabrielle e de suas circunstâncias.

Uma história de amor inusitada resulta dessa trama e acaba por surpreender o espectador, oferecendo à grande atriz Marion Cotillard uma oportunidade para explorar uma personagem complexa e intrigante.  De Louis Garrel, ao contrário, se exige o minimalismo interpretativo de alguém que já perdeu suas forças, e de Alex Brendemühl, ambiguidade e contenção.  Esse trio de protagonistas é um dos pontos altos do filme.  A personagem Gabrielle e a atriz que lhe dá vida são a razão de ser e sustentáculo de “Um Instante de Amor”.

  

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