Antonio Carlos
Egypto
TONI ERDMANN (Toni
Erdmann). Alemanha, 2016. Direção e roteiro: Maren Ade. Com Peter Simonischek, Sandra Hüller, Ingrid Bisu, Trystan Pütter,
Michael Wittenborn. 162 min.
Há muitas maneiras de encarar a vida, por exemplo,
permitindo-se ser tragado pelo trabalho, em nome de uma ambição
profissional. Vive-se um presente estressado,
desgastante, em busca de um possível sucesso futuro, ou de simples expectativa
ou esperança a respeito dele. Esse
parece ser o caso da personagem Inês (Sandra Hüller), consultora de grande
empresa multinacional, sediada em Bucareste, na Romênia.
O pai de Inês, Winfried (Peter Simonischek), tem
outra pegada de vida. Coloca o humor em
primeiro plano, faz suas brincadeiras, muitas vezes irritantes, sem se
incomodar com isso. Encarna outro
personagem, para provocar as pessoas, para ajudá-las e para se divertir. É um fanfarrão. A idade já lhe permite ser mais solto e
debochar de coisas que parecem muito sérias, no mundo dos negócios. Ou ele terá tido sempre tal inclinação, mas
agora tem menos a perder.
De qualquer forma, são dois modos muito diferentes de
viver que, como seria de se esperar, não podem dar química e tendem à fissura
quando não à explosão. Esse embate entre
dois mundos é a matéria-prima da comédia dramática, muito bem conduzida pela
diretora e roteirista Maren Ade, “Toni Erdmann”, filme alemão selecionado para
a disputa do Oscar de filme estrangeiro e que já faturou
muitos prêmios mundo afora, desde que foi lançado em Cannes.
Implodidas as convenções sociais, o questionamento
que fica é sobre o que vale realmente a pena fazer da vida e o melhor jeito de
tocá-la, o que perpassa toda a narrativa.
Um destaque para a fugacidade da chamada felicidade, que é feita de
momentos que algumas vezes passam sem serem percebidos, para só depois serem
reconhecidos como tal. Ou que a gente
não permite que aconteçam, talvez por medo do ridículo.
Toni Erdhmann é um personagem criado por Winfried
para interagir com a filha de um outro modo, explorando outras possibilidades,
uma tentativa bem humorada de enfrentar um impasse. É daí que vem a comicidade do filme. Um tipo de humor um tanto estranho,
exploratório, que vai incomodar algumas pessoas. Mas que tem a vantagem de
possibilitar as muitas surpresas e reviravoltas que a trama apresenta. E se não chega a levar a muitas gargalhadas,
a farsa e a ironia que esse humor carrega produzem risos com frequência.
Interpretações soberbas do elenco, em especial os
protagonistas Peter Simonischek e Sandra Hüller, dão sustentáculo a um trabalho
bem estruturado e construído a partir de um roteiro original, inspirado no
próprio pai da diretora Maren Ade. Ela,
de fato, concebeu um grande personagem, uma figura bem inusitada e
curiosa. Capaz de encantar alguns,
irritar outros, mas que não produz tédio ou indiferença. Isso, apesar da duração excessiva do filme,
de quase três horas. Não precisava
tanto, mas não cansa ou aborrece. Tem
bom ritmo e fluência.
O final do filme é simples e perfeito. Coroa de modo muito inteligente o que a trama
desenvolveu ao longo de todo esse tempo.
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