segunda-feira, 28 de março de 2016

CONSPIRAÇÃO E PODER


Antonio Carlos Egypto




CONSPIRAÇÃO E PODER (Truth).  Estados Unidos, 2015.  Direção: James Vanderbilt.  Com Robert Redford, Cate Blanchett, Dennis Quaid, Thopher Grace.  120 min.



Às vésperas da eleição que reelegeu George W. Bush, a rede de TV norte-americana CBS, por meio de sua repórter Mary Papes (Cate Blanchett), tinha sérios indícios de irregularidades envolvendo Bush na juventude.  Foram pesquisar dados sobre a carreira de piloto daquele que seria um dia o presidente dos Estados Unidos, seu treinamento, sua ficha funcional e os privilégios de que teria gozado utilizando seus contatos da época.  Bush pai, que se tornaria presidente antes dele, já era um político influente, então.  O privilégio, no caso, foi não combater na guerra do Vietnã.

Partindo de um depoimento muito claro de alguém que compartilhou daqueles tempos no ambiente militar, as coisas se encaixavam.  E as lacunas eram eloquentes.




O famoso apresentador Dan Rather (Robert Redford) sempre confiou no faro e na integridade da sua repórter, uma jornalista com quem ele mantinha ótimas relações profissionais e bancou a investigação, levando-a ao ar, no programa “60 Minutes”.

Aí passamos a ver os elementos envolvidos no jornalismo: o papel dos patrões, as pressões, os questionamentos, os interesses contrariados, a batalha para esconder informações, o peso dos anunciantes, o medo de enfrentar o poder e sair chamuscado, o papel da audiência nas decisões.  Ou seja, tudo o que pode envolver uma informação jornalística e interferir nos seus caminhos e resultados.  Algo menos heróico e bem mais realista do que filmes que celebram a maravilha do jornalismo investigativo costumam mostrar.




A verdade é o que queremos acreditar que seja ou aquilo em que nos interessa crer no momento. São muitas as versões e elas sempre levam vantagem sobre os chamados fatos.  Até porque os próprios fatos são percebidos pelo filtro desses mesmos interesses pessoais, grupais ou coletivos.

A mídia tem um forte papel no sentido de gerar narrativas, mais ou menos interessantes, ou criativas.  Capazes de convencer, ou não, a audiência.  Em compensação, qualquer senão pode pôr uma investigação séria a perder.




É de questões como essas que trata o filme “Conspiração e Poder”.  Muito bem realizado, com um elenco de peso, a começar por Robert Redford e Cate Blanchett, o filme é um convite à reflexão, a partir das informações que nos passa e da forma direta como nos conta a história.  Em que pese o fato de que não tenhamos familiaridade suficiente com o contexto norte-americano, para entender detalhes do funcionamento institucional por lá e dos mecanismos de decisão da guerra, que então dominava a cena, a do Vietnã.  Contudo, fica evidente que a imagem do candidato favorito às eleições presidenciais estaria seriamente abalada com as revelações.  Ainda mais, considerando-se que seu oponente ostentava glórias de guerra.

Sabemos hoje o resultado daquelas eleições, e que a reeleição de George W. Bush aconteceu.  A investigação jornalística não alterou a realidade eleitoral que se prenunciava.  O filme “Conspiração e Poder” mostra como e por que isso se deu.  Vale conhecer essa história para entender melhor os meandros do jornalismo e da política e as profundas relações que mantêm entre si.




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