Antonio
Carlos Egypto
TRUMBO – LISTA NEGRA (Trumbo). Estados Unidos,
2015. Direção: Jay Roach. Com Bryan
Cranston, Diane Lane, Helen Mirren, John Goodman, Michael Stuhlbarg, Louis C.
K.. 124 min.
Dalton Trumbo foi um dos mais bem-sucedidos
roteiristas da história de Hollywood. Escritor muito talentoso, era capaz de
produzir desde histórias banais, com personagens sem sentido, em função de
atender às expectativas de lucro fácil dos produtores, a obras elaboradas,
sofisticadas, passando por épicos, blockbusters
e outros tipos de sucessos populares.
Aliou-se ao Partido Comunista Americano, e filiou-se posteriormente, num
período em que, por conta da Segunda Guerra Mundial e suas consequências,
buscava-se melhorar, transformar o mundo.
Ocorre que os Estados Unidos, no pós-guerra, passaram
a desenvolver a paranoia anticomunista que seria sua marca na Guerra Fria e que
atingiu em cheio também a América Latina, nos anos 1960 e 1970, sustentando as
ditaduras que por aqui vigoraram.
A partir de 1947, o chamado Comitê de Atividades
Antiamericanas do Congresso dos Estados Unidos voltou sua atenção para
Hollywood e pretendeu extirpar de seu meio os que eram denunciados como
comunistas. E o fez marcando-os,
publicamente, e impedindo-os de trabalhar em seu ofício e, em vários casos,
encarcerando-os por algum tempo. Foi
precisamente o caso de Dalton Trumbo, cuja história é narrada no filme “Trumbo
– A Lista Negra”, dirigido por Jay Roach.
O filme procura mostrar quem foi esse personagem,
suas relações profissionais e familiares, suas crenças e, sobretudo, a luta que
travou para poder trabalhar e viver, dando trabalho a outros talentosos escritores
banidos, além do permanente combate pelo fim da lista negra. Por mais de uma década, ele atuou
clandestinamente, sem poder assinar seus roteiros e, ironicamente, venceu o
Oscar por duas vezes, com os filmes “”A Princesa e o Plebeu” (1953) e “Arenas
Sangrentas” (1957), impedido de aparecer para receber o prêmio, que não estava
em seu nome. Só com “Spartacus”,
dirigido por Stanley Kubrick, com Kirk Douglas, e “Êxodus”, dirigido por Otto
Preminger, ambos de 1960, seu nome pôde voltar a figurar nos créditos e a
abominável lista caiu por terra. Não
está no filme, que vai até 1970, mas um dos mais importantes trabalhos de
Dalton Trumbo no cinema foi a adaptação de sua obra literária “Johnny Vai À
Guerra”, de 1939, que ele mesmo dirigiu em 1971. É um dos mais importantes filmes sobre guerra
já feitos.
“Trumbo – A Lista Negra” funde cenas dos filmes
originais a filmagens feitas agora, tanto em preto e branco como a cores, de um
modo muito eficiente. Tem atuações
marcantes do trio central de atores: Bryan Cranston, como Trumbo (indicado ao
Oscar 2016 como ator), Diane Lane, como sua mulher, Cleo Trumbo, e a vilã da
história, representada pela personagem Hedda Hopper, ex-atriz do cinema mudo e
colunista de sucesso, que combateu ferozmente os chamados traidores comunistas
de Hollywood. O papel coube à grande
Helen Mirren, que faz a vilã em um figurino excêntrico, com um chapéu diferente
a cada cena, cada um mais extravagante do que o outro. E roupas de igual teor. O figurino e a caracterização de época são
outro ponto alto do filme, por sinal. E
seu senso de humor, também.
Trata-se, no entanto, de um filme político, e muito
atual. A paranoia anticomunista continua
por aí, travestida de outros nomes, às vezes.
Mas nada mudou, essencialmente.
Em relação ao filme e a seu papel nele, Helen Mirren declarou que: “Qualquer coisa que
cheire a socialismo é um anátema absoluto.
O diálogo político não mudou muito.
Há, ainda, uma batalha entre aqueles que acreditam que temos a obrigação
de cuidar das pessoas que são vulneráveis e aqueles que acreditam no
individualismo e autodeterminação”.
Ou seja,
esquerda e direita continuam sendo posicionamentos muito claros, em que pese o
desejo de embaralhá-los, que se faz com frequência. As práticas políticas se repetem à exaustão,
incluindo o ódio e a intolerância, simplistas e grosseiros, que fizeram parte
do legado do período macartista de caça às bruxas, que os Estados Unidos
viveram quando Dalton Trumbo realizava seu trabalho, com muito esforço e
dedicação, em Hollywood.
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