Antonio
Carlos Egypto
DHEEPAN, O REFÚGIO (Dheepan). França, 2015. Direção:
Jacques Audiard. Com Jesuthasan
Antonythasan, Kalleaswari Srinivasan, Claudine Vinasthamby, Vincent Rottiers,
Marc Zinga. 109
min.
Um mundo marcado por conflitos e guerras de
toda espécie está gerando na Europa uma questão humanitária de extrema
gravidade, como é o drama dos refugiados.
Escapar da fome, da perseguição e da morte, é
algo a se buscar a qualquer preço.
Adaptar-se a lugares estranhos, em que não se tem domínio nem da língua,
nem dos hábitos, sujeitar-se a condições de sobrevivência precárias e de
exploração, sem falar da miséria e dos riscos diários que o simples existir
exige desses imigrantes, geralmente indesejados, tornam-se imperativos.
O novo filme de Jacques Audiard, “Dheepan, o
Refúgio”, entra nessa questão com uma história curiosa. Para conseguir entrar na França, fugindo da
guerra do Sri Lanka, um homem, ex-soldado, o Dheepan do título, uma mulher
jovem, solteira, e uma menina de 9 anos que perdeu seus pais, têm de se passar
por uma falsa família e permanecer juntos, para conseguir cruzar a barreira da
imigração e poder arrumar trabalho e moradia, ainda que precários. Mas o trabalho de zelador e o de empregada
doméstica são dignos e sempre se pode melhorar um pouco um ambiente sujo e
degradado. Comparando-se a uma guerra...
Na verdade, eles não se conhecem, têm de
fingir ser o que não são, nem escolheram ser, o que é um desafio e tanto. Chega a soar engraçado, mas é muito difícil e
complicado. Viver em família já não é
fácil, uma falsa, então, nem se fale.
Mas é possível descobrir, de algum modo, o afeto que poderá unir os
excluídos.
Esse é o centro da narrativa, na primeira
parte do filme, mostrada com muito talento pelos atores e atrizes do Sri Lanka
ou da Índia, sob a mão segura do diretor Audiard, que constrói belos
enquadramentos e explora visualmente muito bem o ambiente.
Algo pior, porém, está por vir e Jacques
Audiard, muito antenado com o terrível papel da violência nos dias atuais, sabe
valer-se dela para nos obrigar a pensar nesses tempos obscuros em que vivemos. Ele
expõe a violência, não para explorá-la como meio de atrair plateias, mas como
condição indispensável para entender o que está acontecendo à nossa volta, ao
nosso lado, perto de nós, onde já estamos metidos. Não há como escapar.
Grande filme, tocado por um realizador que já
nos deu “O Profeta”, em 2009, outro trabalho forte e denso, e garantido pelo
elenco estrangeiro admirável. Os
protagonistas que formam a falsa família, Dheepan (Jesuthasan Antonythasan),
Yalini (Kalleaswari Srinivasan) e a pequena Claudine Vinasthamby, de 9 anos,
que faz Illayaal, estão excelentes.
Destaque para a garota Claudine, que tem desempenho de veterana.
O filme estreia no Brasil na programação da
39ª. Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, após vencer a Palma de Ouro
do Festival de Cannes 2015. E entra a
seguir no circuito regular dos cinemas.
Nenhum comentário:
Postar um comentário