Antonio
Carlos Egypto
João Miguel como Matraga |
A HORA E A VEZ DE AUGUSTO MATRAGA. Brasil, 1965.
Direção: Roberto Santos. Com
Leonardo Villar, Jofre Soares, Maurício do Valle, Maria Ribeiro, Flávio
Migliaccio. 109 min.
A HORA E A VEZ DE AUGUSTO MATRAGA. Brasil, 2011. Direção: Vinícius Coimbra. Com João Miguel, José Wilker, Vanessa
Gerbelli, Irandhir Santos, Chico Anysio, José Dumont. 106 min.
O terreiro lá
de casa
Não se varre
com vassoura
Varre com ponta
de sabre
E bala de
metralhadora.
“A Hora e a Vez de Augusto Matraga”, baseado na obra
de Guimarães Rosa, realizado em 1965 com a direção de Roberto Santos, é um dos
maiores clássicos do cinema brasileiro.
Foi um dos filmes mais fortes e impactantes da minha juventude. As interpretações de Leonardo Villar, Jofre
Soares, Maurício do Valle, Maria Ribeiro e Flávio Migliaccio,
inesquecíveis. A música que Geraldo
Vandré fez para o filme é espetacular, nunca poderia me esquecer dela porque a tenho
em disco de vinil até hoje e ouço de quando em quando.
Leonardo Villar como Matraga |
Só revi o filme há poucos meses, numa sessão da
Cinemateca Brasileira, dentro da retrospectiva dedicada ao cineasta Roberto
Santos, que o exibiu no telão em cópia restaurada. O impacto foi o mesmo. O filme é belíssimo.
Vencedor do Festival de Brasília de 1966, sua
circulação obviamente sofreu muito com a ditadura militar/civil do período e
muita gente não chegou a conhecê-lo. Não
houve lançamento em DVD. Quem entrar no
Google vai encontrar facilmente a cópia integral dele, mas não vale a pena
ver. A imagem é ruim e compromete essa
obra-prima do cinema nacional. Fiquem de
olho em alguma outra exibição no cinema da cópia restaurada, que aí a história
é outra.
Agora chega aos cinemas uma nova versão de “A Hora e
a Vez de Augusto Matraga”, sob a direção de Vinícius Coimbra. O filme foi realizado em 2011, mas só em 2015
está sendo lançado em circuito regular. Ele foi premiado no Festival do Rio, em
2011, como melhor filme, pelo Júri Oficial e pelo Júri Popular. Mesmo assim, questões de direitos e
burocráticas o mantiveram fora de cartaz até hoje.
Nessa nova versão da obra de Guimarães Rosa, coube a
João Miguel, grande ator, o papel de Augusto Matraga, que originalmente foi
vivido pelo grande Leonardo Villar. Ele se sai muito bem na difícil empreitada
de viver um personagem que se transforma de modo radical e tem agressividade e
mansidão em proporções alternadas, crueldade e beatitude em escalas similares.
A nova versão traz também José Wilker, como Joãozinho
Bem-Bem, e tem a participação especial de Chico Anysio, como o Major
Consilva. Dois grandes nomes que já se
foram, figuras queridas e talentosas, que ver em cena é sempre muito bom.
Vanessa Gerbelli e Irandhir Santos também compõem o ótimo elenco do filme, que
ainda conta com participações especiais de José Dumont e Gorete Milagres. Enfim, de grandes atores e atrizes o filme
está cheio.
Para que possamos admitir a ausência da música de
Geraldo Vandré, que dialogava tão diretamente com o texto e a história, na
versão original, o novo Matraga põe a música sublime de Tom Jobim com grande
orquestra, inundando a tela de um som magnífico. Deu para compensar.
A versão atual de Matraga destaca e valoriza bem a
prosa original de Guimarães Rosa e dá à saga do personagem uma dimensão de
aventura ao estilo faroeste, capaz de envolver o público. É um bom trabalho, que merece ser visto.
Quanto à inevitável comparação que farão todos os que
conhecem o filme original, é preciso considerar que os tempos são outros, as intenções
mudam, a própria tecnologia de filmar muda.
O Matraga original é um exemplar bem acabado do cinema novo brasileiro
da época, que renovou a linguagem cinematográfica nessas plagas. Para mim, incomparável.
O que não significa que não se possa revisitar essa
obra tão importante da literatura, como é este conto de “Sagarana” e buscar uma
nova forma de apresentá-la. Seria
preciso realizar esse trabalho com a competência e a dignidade que ele merece. Isso, o filme de Vinícius Coimbra alcançou.
Nenhum comentário:
Postar um comentário