Antonio
Carlos Egypto
CASADENTRO
(Casadentro). Peru, 2013.
Direção e roteiro: Joanna Lombardi.
Com Elide Brero, Grapa Paola, Delfina Paredes, Anneliese Fiedler. 87 min.
O
envelhecimento costuma trazer quase inevitavelmente limitações físicas. Pode também trazer a solidão, a acomodação e
a rotina, como uma espécie de ritual protetor.
É o
caso da senhora Pilar, de 81 anos, vivendo num vilarejo do interior do Peru,
apegada a sua cadela Tuna, em relação afetiva muito intensa com ela. Quase nada acontece em sua vida, dia após
dia. Todo dia ela faz tudo sempre igual,
como diria Chico Buarque.
Até
que sua monotonia é quebrada por um telefonema.
Sua filha Patrícia vem vindo visitá-la, acompanhada da própria filha,
neta de Pilar, e de seu bebê, recém-nascido. Uma reviravolta se processará na vida de D.
Pilar, ou, pelo menos, ela sente isso assim, como uma intromissão, uma ameaça.
Mulheres,
mães de três gerações, irão conviver por um tempo, evidenciando as diferenças
que o papel materno foi tomando no mundo de cada uma delas. E ao longo do tempo histórico de suas vidas.
“Casadentro”, primeiro longa-metragem de Joanna Lombardi, é
convincente ao falar de quase nada, ou seja, da rotina dessa mulher idosa dentro
de casa, às voltas com sua cachorra, e recebendo a visita da família da
filha. Onde aparentemente nada acontece,
podem-se compreender as marcas emocionais do passado, os significados da rotina
na sobrevivência psíquica e da maternidade.
Destaque
para o desempenho de Elide Brero como D. Pilar, atriz veterana de grande
talento, incentivada pela jovem diretora a aceitar o papel, quando já se
considerava aposentada, o que acabou gerando novas atuações no cinema para ela,
após essa interpretação marcante.
A
diretora e roteirista de “Casadentro” é filha de um conceituado e premiado
cineasta peruano, Francisco Lombardi, com 13 longas no currículo e pelo menos
um êxito internacional, “La Ciudad y Los Perros”, de 1985.
Um
filme simples, intimista, minimalista, com enfoque feminino, que resulta num
produto artístico de boa qualidade, fonte de reflexão e demonstração de talento
do cinema peruano, ainda muito pouco presente no nosso mercado exibidor.
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