Antonio
Carlos Egypto
UM MOMENTO PODE MUDAR TUDO (You’re Not You). Estados
Unidos, 2014. Direção: George C.
Wolfe. Com Hillary Swank, Emmy Rossum, Josh Duhamel, Loretta Desire. 112 min.
Kate (Hillary Swank) é uma sofisticada pianista,
casada com Evan (Josh Duhamel), que desfruta com ele de um bom padrão de
vida. Tudo vai bem até ela aparecer com
os primeiros sintomas da doença degenerativa, conhecida como ELA (Esclerose Lateral
Amiotrófica). A partir daí, sua vida vai
ter de ir mudando radicalmente. A doença a incapacita em termos de mobilidade,
atingindo os membros inferiores e superiores, pés e mãos, impossibilitando,
portanto, a sua atividade como pianista.
Atinge a fala, a respiração e o exercício de funções vitais. As funções cognitivas estão preservadas, mas
a autonomia, irremediavelmente comprometida.
Torna-se imperiosa a presença de alguém no papel de cuidadora.
A cuidadora que ela escolha parece, a princípio,
muito inadequada e despreparada. É a
estudante Bec (Emmy Rossum), aspirante a cantora, perdida, com a vida em
desordem, e que só apareceu por lá numa tentativa desesperada de arranjar
emprego. Mas Kate gosta dela, porque não
se sente como paciente, o que acontecia quando estava na mão de uma enfermeira
profissional. Na realidade, a vida de
ambas está caótica. O casamento de Kate
entrou em crise, tudo é um grande desafio.
O filme “Um Momento Pode Mudar Tudo” se concentra
principalmente na relação entre as duas mulheres e o que pode resultar
daí. O título adotado por aqui não é
muito feliz, já que não é o momento que muda tudo, até porque o diagnóstico da
doença não é simples, nem rápido, e tudo vai se dando num processo. O título original alude ao fato de que você
já não pode mais ser você mesmo diante das incapacitações e limitações
decorrentes da doença. No caso de Kate,
muito claramente, a identidade de pianista é das primeiras coisas que o
personagem perde. A partir daí, ela
passa a ser outra pessoa, de algum modo.
Preservam-se a história, a memória e a capacidade intelectual, mas uma
nova vida se impõe.
O caso do grande cientista Stephen Hawkings, que
também tem ELA, ilustra muito bem essa questão.
E o filme “A Teoria de Tudo”, que concorreu ao Oscar 2015, mostra bem
essa história. O ator Eddie Redmayne
levou a estatueta pelo brilhante desempenho no papel do cientista.
Aqui o desafio se apresenta para a ótima Hillary
Swank, que pesquisou bastante sobre a doença e os sintomas, observou casos e
construiu brilhantemente seu personagem.
Ela, como de costume, vale o filme.
E aprender sobre a outra ELA, a enfermidade, é também muito
importante. A população pouco conhece
ainda sobre esse mal. Tenho uma amiga
que é portadora dessa doença e luta para viver bem, com muita tenacidade. Mas não tem sido fácil.
Como disse George C. Wolfe, o diretor do filme: “Às
vezes, na vida, quando você vai de encontro a um obstáculo não negociável,
qualquer que ele seja, esse obstáculo se torna uma oportunidade para que você
se torne outra versão de si mesmo”. Uma
boa observação para a proposta de “Um Momento Pode Mudar Tudo”. Vale para o personagem Kate, mas também para
o personagem Bec e, ainda, para o personagem Evan. Todos acabam tendo de reinventar-se. Como é da vida, por sinal. Por conta de uma doença, mas também de um
sem-número de outros fatores.
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