Antonio
Carlos Egypto
RUN
& JUMP (Run & Jump). Irlanda, 2013. Direção: Steph Green. Com Maxine
Peake, Edward Machiam, Sharon Horgan, Will Forte. 102 min.
Um homem de 38 anos, marceneiro, casado e com filhos,
sofre um derrame que deixa funções cerebrais comprometidas e gera transtorno de
personalidade. Após meses de
hospitalização, ele volta para casa, para o convívio da família. Mas volta acompanhado de um observador,
pesquisador de problemas mentais, que vai viver com a família durante dois
meses, para documentar e escrever relatórios científicos sobre o processo de recuperação do paciente.
É óbvio que a família toda se sentirá observada e
incomodada com a presença do estranho, especialmente a esposa. E, claro, uma tal experiência não tem como
dar certo e é do envolvimento do pesquisador com a família e dos problemas
familiares que se tratará daí em diante.
Com direito a uma bizarra relação amorosa.
O ponto de partida, que cria a história do filme, não
se sustenta. Nas ciências humanas, não
há como separar o pesquisador do seu objeto de pesquisa, uma vez que ele é
parte integrante desse objeto. A
experiência de viver num determinado contexto humano, envolvido com ele,
sentindo e interagindo com ele, é possível e pode trazer conhecimentos
relevantes. Desde que não se pretenda um
distanciamento do objeto de estudo ou algum tipo de neutralidade, como a
observação objetiva do fenômeno. E aqui
era o que se pretendia.
Diante disso, o personagem do pesquisador é
apresentado como alguém que diz que não tem família e que vive para o
trabalho. Mais do que isso, ele é
travado em coisas simples da vida, como interagir espontaneamente com crianças
ou dançar. Naturalmente, isso vai ter de
mudar, ao longo da narrativa. Mas a
construção do personagem soa artificializada, numa situação que já não é
crível.
Faltam a ele características humanas básicas que
favoreçam a interação social. Ou estão
reprimidas de tal jeito, para que ele possa se dedicar a esse tipo de trabalho,
que não lhe permitem viver com naturalidade.
Mas como se explica isso, num estudioso das ciências humanas? É o contrário do que se supõe que seria
alguém que se dedicasse a um trabalho como esse.
De outro lado, há os sentimentos da esposa, que
recebe em casa um “novo” marido e um “novo” pai. Que já não é capaz de cumprir essas funções,
nem tem alcance do que se passa à sua volta.
Parece identificar-se com os sentimentos e ações dos animais, mais
simples de serem compreendidos.
Portanto, alguém que se ausenta daquilo que lhe diria respeito. Não obstante, está vivo, presente e atuante
naquele espaço. Embora nem mesmo seu
talento com a marcenaria sirva mais para o sustento da família. Quando a cabeça não funciona bem, tudo se
complica.
A esposa, sobrecarregada com o problema do marido, as
funções da casa e um estranho que também a observa, nem percebe direito o que se passa com seu
filho mais velho. E tem de encontrar
meios de se entender e se relacionar com esse homem, que está de passagem pela
casa, mas que, em tese, seria capaz de resolver muitas questões da vida dela.
“Run & Jump”, o primeiro filme da cineasta Steph
Green, acaba soando estranho e um tanto deslocado da realidade, apesar de
buscar um tema denso e relevante e de todos os cuidados para a realização de um
trabalho sério, sem preocupações ou concessões comerciais.
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