Antonio
Carlos Egypto
A OESTE DO FIM DO MUNDO. Argentina/Brasil, 2012. Direção: Paulo Nascimento. Com César Troncoso, Fernanda Moro, Nelson
Diniz. 104 min.
Num tempo em que as pessoas são bombardeadas por
imagens, estão plugadas o tempo todo, não há o tempo e o espaço indispensáveis
para parar, observar, pensar em si mesmas e na vida, um filme que se propõe a
ser uma experiência contemplativa cai muito bem. Ou melhor, cairia, se as pessoas se dispusessem
a isso.
É o caso, por exemplo, do filme “A Oeste do Fim do
Mundo”, produção argentina e brasileira, rodada na região de Mendoza, em
Uspallata, na majestosa Cordilheira dos Andes, na Argentina, nas proximidades
do Chile.
A locação, por si só, já vale o filme. A fotografia realça a beleza da
paisagem. Montanhas imponentes, de uma
mansidão que contrasta com sua força. Um
lugar perdido no meio do nada. Um homem
solitário, um posto de gasolina, que recebe, ocasionalmente, algum caminhão ou
outro veículo, que param para abastecer.
Numa das primeiras cenas do filme, um furgão para, mas León (César Troncoso), o homem do
posto, está comendo. Termina calmamente
de mastigar, antes de se dispor a atender o freguês. Sem pressa.
Assim como a paisagem é completamente outra, o tempo também é.
Quem ali vive, ou por ali vai ficando, está fugindo
de algo, de si mesmo, dos conflitos e culpas que carrega consigo ou de sua
incapacidade de dar conta dos desafios que a vida lhe apresenta. Ou, quem sabe, de crimes que cometeu. Poderia até não ser assim. Mas, no caso dos personagens de “A Oeste do
Fim do Mundo”, é assim.
Lá estarão convivendo com o argentino León os
brasileiros Silas (Nelson Diniz), motociclista sarcástico que passa sempre pelo
posto, trazendo peças para consertar uma moto, e Ana (Fernanda Moro) que,
circunstancialmente, teve de parar por ali e foi ficando. A presença dela
modifica a vida não só de León como de Silas e, é claro, dela mesma. Enfrentamentos podem doer muito, mas são
coisas necessárias à nossa existência.
O filme faz tudo a seu tempo. Pouco a pouco vai mostrando os personagens,
seus silêncios, medos, suas poucas falas e os mistérios que escondem. A
malfadada guerra das Malvinas se faz presente. Não é uma história original a que vai se
revelando. É até previsível, pode-se
inferi-la antes de que seja revelada, mas vale aproveitar esse tempo para
conhecê-los, cercados pelas montanhas, apartados do mundo, na Ruta 7,
Argentina, na imensidão da estrada transcontinental da Cordilheira.
O ótimo ator uruguaio César Troncoso faz o
protagonista León, que contracena com o personagem brasileiro de Nelson Diniz,
que se expressa em espanhol, e a personagem de Fernanda Moro, que só fala
português com ambos. A importância da
língua como marca de um povo é explorada pelo filme, que se preocupa com a
questão da identidade e do pertencimento a um agrupamento humano que dê sentido
à vida. Na origem, claro, está sempre a
família.
Bom trabalho do diretor gaúcho Paulo Nascimento, que realizou “A Oeste do Fim
do Mundo”, filmando a história na ordem e nos horários reais das cenas, já que
a intensa mudança de luz na Cordilheira tornaria difícil a utilização de outro
processo de filmagem. O filme está sendo
apresentado nos cinemas com uma sessão diária acessível, com audiodescrição e
legendas.
Se há uma razão porque eu gosto deste filme é a participação do ator César Troncoso, um dos meus favoritos no cinema e teatro. Um filme com um enredo interessante que vale a pena ver.
ResponderExcluir