quinta-feira, 15 de agosto de 2013

FLORES RARAS


Antonio Carlos Egypto




FLORES RARAS (Reaching for the Moon).  Brasil, 2013.  Direção: Bruno Barreto.  Com Glória Pires, Miranda Otto, Tracy Middendorf, Treat Williams, Marcelo Airoldi, Lola Kirke.  118 min.


“Flores Raras”, de Bruno Barreto, trata de um triângulo de amor lésbico, real, que envolveu duas mulheres historicamente importantes, no Rio de Janeiro, nos anos 1950 e 1960.

O vértice do triângulo é Lota (Maria Carlota) de Macedo Soares (Glória Pires), arquiteta e paisagista autodidata, uma figura forte, empreendedora, autoconfiante e dominadora.  Ela foi responsável por grande parte do projeto do Parque do Flamengo, no famoso aterro, durante o governo de Carlos Lacerda, que também é personagem do filme, interpretado por Marcelo Airoldi.  Acabou perdendo o controle sobre o projeto, mas sua contribuição parece ter sido a mais importante para essa obra.

Outro lado do triângulo é a grande poetisa norte-americana, Elizabeth Bishop (Miranda Otto), uma mulher de estrutura frágil e grande sensibilidade, que fazia das viagens seu modo de vida, e de fuga, e tinha no alcoolismo sua válvula de escape.  Vencedora do Prêmio Pulitzer de 1956, quando estava vivendo e trabalhando na casa construída para ela por Lota, no terreno de propriedade da arquiteta, onde também vivia e convivia com Mary (Tracy Middendorf). 



A julgar pelo que mostra o filme, Mary teve pouca atuação pública.  Teve papel relevante como assistente de Lota na construção do Parque do Flamengo, mas seu principal papel nessa história foi o de mãe de uma criança adotada por elas, que amou e de quem cuidou com carinho.

A história amorosa homossexual que envolveu as três mulheres foi muito intensa e bonita, embora marcada por muitos conflitos e trazendo, inevitavelmente, ciúmes e perdas.  E Bruno Barreto não fez dela um dramalhão carregado.  Ao contrário, traz beleza e leveza à trama, além das imagens de cartão postal do Rio de Janeiro e de Nova York, onde se passa parte da história. O filme é limpo e bonito todo o tempo.



Grandes atrizes garantem o espetáculo.  Glória Pires, como sempre brilhante, explorou muito bem o que poderíamos caracterizar como o seu lado masculino e construiu um grande personagem, expressando-se na maior parte do tempo em inglês, no relacionamento com as outras mulheres, alternando-se com a interação com os brasileiros da trama, falando em português.

A atriz australiana Miranda Otto dá a dimensão da grandeza da poetisa, dos seus estados de alma alterados, com sutileza, e faz uma dependente do álcool que foge dos clichês.  Belo desempenho.  A norte-americana Tracy Middendorf completa o triângulo, dando a dimensão dramática apropriada para um personagem em permanente conflito na situação. 



Bruno Barreto, diretor de “Dona Flor e Seus Dois Maridos”, de 1976, “Gabriela”, de 1983, e “O Que É Isso, Companheiro”, de 1997, chega com “Flores Raras” ao seu 19º. filme.  É uma produção brasileira com ares internacionais, falada a maior parte do tempo em inglês.  Pode disputar o Oscar sem cair na categoria de filme estrangeiro.  Apesar de o diretor declarar que teve dificuldades de financiamento, em função do tema gay, que ainda persiste como preconceito junto a empresas e investidores, o número de financiadores que aparece nos créditos iniciais do filme é enorme.


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