Antonio Carlos Egypto
DOSSIÊ
JANGO. Brasil, 2012. Direção: Paulo Henrique Fontenelle. Argumento: Paulo Mendonça e Roberto
Farias. Documentário. 102 min.
“Dossiê
Jango” é um documentário que aborda a trajetória do ex-presidente João Goulart,
concentrando-se no período de seu exílio e fim.
E tem uma intenção clara: propor a investigação da morte de Jango, com
base em suspeitas bastante plausíveis de que teria ocorrido um assassinato e
não morte natural.
Num
primeiro momento, a ideia parece estranha.
Jango faleceu em decorrência de um infarto, na Argentina, em 06 de
dezembro de 1976. Ele era,
reconhecidamente, paciente cardíaco.
Estava bem de saúde, mas se valia permanentemente de medicação. Há uma suposição de troca dos remédios que
teria provocado sua morte, justamente quando ele estava pensando em poder
voltar ao Brasil. Evidentemente, não é
algo fácil de se comprovar a esta altura.
A exumação do corpo do ex-presidente foi recentemente aprovada e talvez
possa esclarecer as circunstâncias da morte.
O
contexto político em que isso se dá é, no entanto, bastante revelador. A ditadura já perdia fôlego nesse período e
era evidente que o caminho para a redemocratização seria questão de tempo. Viriam a abertura lenta e gradual do regime e
a anistia, mas ainda era preciso muita luta e articulações políticas para
superar o período autoritário.
Num
eventual retorno a eleições presidenciais, os nomes mais fortes e influentes,
com maior potencial de voto, seriam os ex-presidentes Juscelino Kubitschek e o
próprio Jango, além de Carlos Lacerda, a maior liderança da direita e político
de dotes raros, de oratória e coragem.
Arqui-inimigo do getulismo e, portanto, de Jango, sempre foi um rival de
peso.
Pois
bem, os rumos da ditadura acabaram por unir os adversários políticos, todos já
cassados, em prol de uma causa comum: a redemocratização do país, o fim da
ditadura militar instalada desde 1964.
Formaram, então, e surpreendentemente, a Frente Ampla, com significado
óbvio para a vida nacional daquele momento histórico.
Num
período de apenas nove meses, Juscelino Kubitschek, Carlos Lacerda e João
Goulart morreram. Juscelino, num
acidente de estrada, suspeitíssimo.
Houve até notícia equivocada de sua suposta morte por acidente dias
antes do ocorrido. Carlos Lacerda
padecia de uma gripe e foi tomar injeção num hospital. Pouco depois estava morto, também de forma
estranha e inesperada. E João Goulart sofreu um infarto.
Há
outras mortes inexplicáveis, como a do médico legista que fez o laudo da morte
de Jango, do empresário uruguaio e amigo do ex-presidente, Enrique Foch Diaz,
que afirmava veementemente que Jango fora assassinado, cujo depoimento está no
filme. Entre outras mortes, também por
razões cardíacas, no mesmo período.
Há,
ainda, entrevistas esclarecedoras que fazem crer na hipótese do
assassinato. Evidentemente, é uma
história que precisa ser muito melhor contada, a partir de investigações. É necessário resgatar a verdade histórica. É isso que “Dossiê Jango” procura fazer, dando
elementos que subsidiem esse trabalho investigativo com novas informações e o
resgate de documentos, como os do Serviço de Inteligência do Uruguai e do DOPS
(Departamento de Ordem Política e Social).
E também depoimentos como os de Mário Neira Barreiro, ex-agente policial
uruguaio, preso no Rio Grande do Sul, desde 2003.
São
muitos os entrevistados, inclusive o filho e a viúva de Jango. A produção pode ser considerada não-isenta,
uma vez que é também do Instituto João Goulart, além do Canal Brasil. Foi mesmo para reabrir o caso. Mas isso não tira o mérito do filme. As informações que ele traz são fortes,
contundentes. E eles têm razão: não
podemos ficar simplesmente com uma história oficial que parece pouco
convincente, principalmente se olharmos o entorno que envolveu a morte do
presidente João Goulart, deposto por um golpe de Estado que deu origem a um
longo período ditatorial no Brasil.
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