sábado, 29 de junho de 2013

OS AMANTES PASSAGEIROS

Antonio Carlos Egypto




OS AMANTES PASSAGEIROS (Los amantes pasajeros). Espanha, 2013.  Roteiro e direção: Pedro Almodóvar.  Com Javier Cámara, Carlos Areces, Raúl Arévalo, Lola Dueñas, Cecília Roth, Antonio de la Torre, Penélope Cruz, Antonio Banderas.  91 min.



Um novo filme de Pedro Almodóvar está em cartaz: “Os amantes passageiros”.  A importância do cineasta espanhol que tem uma obra autoral muito prestigiada é motivo suficiente para que qualquer novo trabalho dele mereça a nossa atenção.  Especialmente se levarmos em conta que seu filme anterior, “A pele que habito”, de 2011, é uma obra-prima.  O problema é que se você for com essas expectativas ao cinema vai se frustrar.



“Os amantes passageiros” é uma comédia amalucada, sem maiores pretensões artísticas, tem um jeitão provocador que faz lembrar os primeiros longas do diretor.  Naquela altura, anos 1980, a Espanha havia, finalmente, se livrado da ditadura de Francisco Franco e seu moralismo ultracatólico.  Almodóvar detonava esses valores, validando com suas histórias e personagens o sexo livre, sem obrigações ou compromissos, e a diversidade sexual.  Seu mundo transgressivo também mostrava a presença das drogas psicoativas no cotidiano de todos , até mesmo de um convento de freiras.  Vamos parar de ser hipócritas e encarar o mundo como ele é, era uma de suas principais mensagens.  E vamos nos libertar das amarras que nos prendem.

Tudo isso fazia muito sentido àquela altura.  Hoje, que a Espanha já virou de cabeça para baixo tudo aquilo, o sentido é outro.  Se, naqueles tempos, era hora de festejar a liberdade,  agora talvez o escracho sirva para aguentar a crise que se abate sobre a Europa e mais diretamente sobre seu país.



A história gira em torno de um avião com problemas num trem de pouso, que precisa ficar dando voltas sem saber aonde poderá parar.  Terá de fazer um pouso forçado. O avião é da empresa aérea fictícia Península.  Qualquer semelhança com os rumos, ou a falta deles, que atinge a Espanha, e também Portugal, não será mera coincidência.

A partir daí, os personagens bizarros que voam na classe executiva e os comissários de bordo que os atendem, mais piloto e copiloto, revelam tudo e mais um pouco.  Com a perspectiva e possibilidade da morte, tudo pode ser dito e feito.  Aí, sexo se resume a excitação sexual e cada um, embalado por água valenciana mesclada a mescalina, vai dando um jeito de satisfazer seus desejos sexuais mais imediatos.  Do casal em lua de mel a uma atriz pornô, passando por um homem mulherengo que faz as mulheres enlouquecerem por sua causa e por uma virgem, que precisa resolver o seu problema ainda nesse voo, vale tudo.  Mas o que mais se destaca é a cena gay.  Os comissários são homossexuais muito afetados, caricatos.  O piloto é caso de um deles e o copiloto se diz heterossexual, mas já fez sexo oral com o piloto, supostamente, para se testar.

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Enquanto isso, na classe turística, todos foram postos a dormir, inclusive as aeromoças, ao poder de um sonífero, relaxante muscular.  O povo é conduzido, não conduz, mas pode ser usado como objeto de desejo sexual, como no caso da virgem que, enfim, consegue o que queria.

Assim, os desejos se expressam e as situações cômicas se sucedem.  Porém, o clima já não é de festa, remete mais ao desencanto com o rumo que as coisas tomaram.  A produção barata pode ter sido uma escolha, mas provavelmente é  muito mais reflexo da crise econômica e de suas consequências para o cinema espanhol.

O elenco almodovariano está lá: Javier Cámara, Cecília Roth, Lola Dueñas, Carlos Areces, Raúl Arévalo e outros.  Tem até Antonio Banderas e Penélope Cruz, mas em participações especiais.  Ambos atuam apenas nos primeiros minutos, nas primeiras cenas do filme, depois desaparecem.  Há cenas inusitadas, divertidas, estranhas.  O conjunto, no entanto, é frágil, em se tratando de um filme de Pedro Almodóvar.


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