Antonio Carlos Egypto
AMOR PROFUNDO (The
Deep Blue Sea). Inglaterra, 2011. Direção: Terence Davies. Com Rachel Weisz, Tom Hiddleston, Simon
Russel Beale, Ann Mitchell. 100 min.
Estamos em Londres, 1950. Mas nem era preciso dizer. As imagens falam por si. Lá está a cidade em cores esmaecidas,
revelando o clima de bruma que costuma cercá-la. As luzes difusas e os ajustes de foco
reforçam isso. A ambientação, as casas, os carros, o figurino, os cabelos, os
gestos, tudo combina perfeitamente. Não
dá margem a dúvida alguma. As pessoas
vão aparecendo sem dizer nada e a gente entende que vem aí um drama passional,
uma história de amor.
São muitos minutos de pura imagem, que têm o papel de
nos colocar naquela cidade, naquela época, naquele mundo e com aqueles
personagens, cujos perfis já nos revelam algo.
Ainda não sabemos quem são, mas já intuímos o que está por vir. Puro cinema!
O que vem depois?
O que estava mesmo anunciado: um melodrama daqueles. Desejo, rompimento, insistência obsessiva,
abandono, sofrimento. Mas mantendo a
classe, sem qualquer exagero ou histeria desnecessários. Escancarado, mas sutil. E de uma beleza plástica admirável. Todas as tomadas são impecavelmente belas e,
de alguma forma, delicadas.
O diretor britânico Terence Davies tem mesmo esse
estilo. Aspectos autobiográficos de sua
vida, na infância, em família, já aparecem em outros filmes desse mesmo jeito soft de abordar problemas, sofrimentos,
dificuldades. Coisas terríveis podem ser
mostradas em ambientes com pouca luz, falando baixo, sem gritaria, no choro
contido. Até por intermédio de canções. Alguns de seus filmes são “Vozes Distantes”,
de 1988, “O Fim de um Longo Dia”, de 1992, “Memórias”, de 1994, “A Essência da
Paixão”, de 2000.
“Amor Profundo” é a adaptação para o cinema da peça
teatral “The Deep Blue Sea”, de Terence Rattigan, de 1952. Focaliza o drama
amoroso em meio às lembranças e vicissitudes que a guerra deixou nas
pessoas. Traumas, por certo, mas também
memórias associadas a aventuras, como as vividas por um piloto aéreo da Segunda
Guerra, Freddie (Tom Hiddleston), que é amado por Hester (Rachel Weisz), uma
mulher casada com um juiz e que abandona o marido, William (Simon Russel Beale)
por ele.
O filme coloca uma questão-chave: como uma tentativa
de suicídio modifica uma relação amorosa, ao mesmo tempo intensa e complicada,
e as relações que a cercam? Tentar
matar-se por amor é um gesto extremo.
Depois dele, nada será como antes.
Um elemento transformador do amor e de suas exigências. Um mergulho no profundo mar azul do título
original?
Independentemente do interesse pelo gênero
cinematográfico ou pela temática abordada, é um filme que toca a sensibilidade
e desperta o senso artístico. Apreciar
seus enquadramentos, seu clima, sua caracterização de época e os desempenhos,
que exigiram muita sutileza dos atores, vale a ida ao cinema.
Nenhum comentário:
Postar um comentário