Antonio Carlos Egypto
A DATILÓGRAFA (Populaire). França, 2012.
Direção: Regis Roinsard. Com
Déborah François, Romain Duris, Bérénice Bejo. 95 min.
Que motivos podem levar você ao cinema, hoje em
dia? Puro entretenimento, quem
sabe? Encontrar um filme divertido para
toda a família? Ver um filme
despretensioso, ao estilo dos sucessos comerciais de Hollywood dos anos 1950 e
1960? Curtir a nostalgia de um período
em que o cinema seria mais ingênuo e pudico?
Se essas alternativas o seduzem, a sugestão é ver a
comédia romântica francesa “A Datilógrafa”.
A ação se passa em 1959 e, naturalmente, a direção de arte procura
recriar o período. A gente se sente como
se estivesse naquela época. Não só por
identificação com a história ou os personagens, mas pelo tipo de filme que está
sendo projetado. É como se estivéssemos
indo ao cinema em 1959, ver um filme com Doris Day. A língua falada é o francês, mas todo o resto
remete a uma experiência daquele tipo. E
“A Datilógrafa” decorre como se o filme tivesse sido feito em 1959.
A história, absolutamente linear, segue todos os
padrões daquelas produções de caráter clássico, da construção dos personagens
aos eventos que marcaram a trama, as reviravoltas e o clímax final. Tudo perfeitamente previsível. É possível facilmente antecipar o que vai
acontecer. Estão lá também todos os
clichês e estereótipos dos comportamentos que teriam marcado aquela época. Teriam, porque nem tudo era Doris Day nos
anos 1950, 1960. Nelson Rodrigues já
tinha revelado todo o lado sombrio dessa história.
Se pudermos aceitar a fantasia de um mundo edulcorado,
colorido e ingênuo ali mostrado, dá para se divertir, sim. O filme é quadrado em toda sua
concepção. Não há qualquer novidade, é
tudo retrô e, como já disse, previsível, mas ainda assim funciona. Se você deixar o espírito crítico um pouco de
lado, é claro.
O assunto da datilografia é muito interessante. O glamour que a função de secretária
supostamente despertava nas jovens, também.
E se a essência da secretária era ser boa datilógrafa, além de bonita e
bem arrumada, quem acabará brilhando é quem for mais rápida ao bater nas teclas
das máquinas de escrever. Daí o apelo que
teriam os concursos para as datilógrafas mais rápidas do país e do mundo. Nisso, a direção do filme é muito
eficiente. O concurso das datilógrafas
consegue ser apresentado como um campeonato esportivo, com muito público,
torcida e com direito a capas de revista.
Um acontecimento. Embora como
espectadores já se saiba no que vai dar, a gente torce mesmo assim. A competição, da forma como é apresentada,
envolve e até cria suspense. A nostalgia
das velhas máquinas de escrever, que irão evoluir até a máquina com esfera,
simboliza um tempo, supostamente romântico, em que a digitação e os
computadores serão assunto do futuro.
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