quinta-feira, 23 de maio de 2013

A DATILÓGRAFA

                          
 Antonio Carlos Egypto




A DATILÓGRAFA (Populaire).  França, 2012.  Direção: Regis Roinsard.  Com Déborah François, Romain Duris, Bérénice Bejo. 95 min.


Que motivos podem levar você ao cinema, hoje em dia?  Puro entretenimento, quem sabe?  Encontrar um filme divertido para toda a família?  Ver um filme despretensioso, ao estilo dos sucessos comerciais de Hollywood dos anos 1950 e 1960?  Curtir a nostalgia de um período em que o cinema seria mais ingênuo e pudico? 

Se essas alternativas o seduzem, a sugestão é ver a comédia romântica francesa “A Datilógrafa”.  A ação se passa em 1959 e, naturalmente, a direção de arte procura recriar o período.  A gente se sente como se estivesse naquela época.  Não só por identificação com a história ou os personagens, mas pelo tipo de filme que está sendo projetado.  É como se estivéssemos indo ao cinema em 1959, ver um filme com Doris Day.  A língua falada é o francês, mas todo o resto remete a uma experiência daquele tipo.  E “A Datilógrafa” decorre como se o filme tivesse sido feito em 1959.




A história, absolutamente linear, segue todos os padrões daquelas produções de caráter clássico, da construção dos personagens aos eventos que marcaram a trama, as reviravoltas e o clímax final.  Tudo perfeitamente previsível.  É possível facilmente antecipar o que vai acontecer.  Estão lá também todos os clichês e estereótipos dos comportamentos que teriam marcado aquela época.  Teriam, porque nem tudo era Doris Day nos anos 1950, 1960.  Nelson Rodrigues já tinha revelado todo o lado sombrio dessa história.

Se pudermos aceitar a fantasia de um mundo edulcorado, colorido e ingênuo ali mostrado, dá para se divertir, sim.  O filme é quadrado em toda sua concepção.  Não há qualquer novidade, é tudo retrô e, como já disse, previsível, mas ainda assim funciona.  Se você deixar o espírito crítico um pouco de lado, é claro.




O assunto da datilografia é muito interessante.  O glamour que a função de secretária supostamente despertava nas jovens, também.  E se a essência da secretária era ser boa datilógrafa, além de bonita e bem arrumada, quem acabará brilhando é quem for mais rápida ao bater nas teclas das máquinas de escrever.  Daí o apelo que teriam os concursos para as datilógrafas mais rápidas do país e do mundo.  Nisso, a direção do filme é muito eficiente.  O concurso das datilógrafas consegue ser apresentado como um campeonato esportivo, com muito público, torcida e com direito a capas de revista.  Um acontecimento.  Embora como espectadores já se saiba no que vai dar, a gente torce mesmo assim.  A competição, da forma como é apresentada, envolve e até cria suspense.  A nostalgia das velhas máquinas de escrever, que irão evoluir até a máquina com esfera, simboliza um tempo, supostamente romântico, em que a digitação e os computadores serão assunto do futuro. 
  


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