domingo, 21 de abril de 2013

GINGER & ROSA

                                     
 Antonio Carlos Egypto


GINGER & ROSA (Ginger & Rosa).  Inglaterra, 2012.  Direção: Sally Potter.  Com Elle Fanning, Alice Englert, Alessandro Viola, Christina Hendricks, Thimothy Spall, Anette Bening.  90 min.




Londres, 1962.  No pós-guerra britânico, convivem a Guerra Fria, com a ameaça muito concreta de uma hecatombe nuclear que poria fim à vida na terra, com um mundo de mudanças nos comportamentos.  O advento da pílula anticoncepcional, a liberdade sexual dela decorrente, transformações efetivas no papel das mulheres na sociedade.  O advento da contracultura: paz e amor será o lema da era hippie.  Uma década de grandes mudanças e muito medo.

Nesse contexto, duas garotas adolescentes, inseparáveis, são não só as melhores amigas, mas amigas para sempre, como se definem.  Nisso, nada de novo.  Esse é um elemento conhecido e tradicional dos relacionamentos entre meninas e moças.  Só que já não será possível algo tão intimista e exclusivo nessa amizade, uma vez que o mundo exige tomada de posições.  A crise dos mísseis de Cuba naquele 1962 é um exemplo.  A alienação é inaceitável.  Vai daí que um programa obrigatório de ambas serão as passeatas e panfletos de protesto contra as armas nucleares e a militância pelo pacifismo.




Ginger, a ótima Elle Fanning, admira o pai, Roland (Alessandro Viola), pelo seu jeito anárquico e pacifista, um adulto em plena conexão com a sua época.  Já não sente o mesmo por sua mãe, Nathalie (Christina Hendricks), que ainda não deu o salto para a  liberdade que se abria à vida das mulheres daquele período revolucionário.  Enquanto isso, a sexualidade aflora e as descobertas amorosas estão na ordem do dia.  E o pai descolado de Ginger vai interessar muito a Rosa (Alice Englert), a melhor amiga dela.  É em torno dessa narrativa que decorre a maior parte do filme.




Nada de tão especial, a não ser pela caracterização da época.  “Ginger & Rosa” é muito feliz, ao nos transportar para aquele período, em suas características essenciais.  Casas, roupas, objetos, a vida na rua, os comportamentos, as preocupações, as expressões, as comunicações, a propaganda, tudo nos remete àquela data. Viver naquele momento da vida, não só na Inglaterra, mas em boa parte do mundo, tinha implicações sociais evidentes, que em tudo se manifestavam.  Havia um sentido de coletividade, que alcançava todos, de uma forma ou de outra.  Isso o filme mostra muito bem.  Assim como a dicotomia liberdade e medo.  O tom escuro, londrino, como que enfatiza o medo.  Justo agora, que podemos ser livres, o mundo pode acabar a qualquer momento, parecia ser o pensamento dos jovens.




O que se verá, também, é que essa nova liberdade não é assim tão simples de ser vivida.  Encanta, por um lado, mas faz sofrer, por outro.  Na vida pessoal pode ser bem complicado administrar tudo isso.

“Ginger & Rosa” é, obviamente, nostálgico.  E certamente histórico.  Permite um olhar para um passado recentíssimo, muito rico de vivências e possibilidades que moldaram muitos dos avanços de que desfrutamos atualmente.  Também nos permite ver que tanta gente ainda tem nostalgia de um tempo que, se tinha seu charme, já cumpriu seu papel.  A ênfase na possibilidade da guerra nuclear iminente, mostrada no filme, nos parece tão datada hoje...  E, no entanto, como era verdadeira lá.



Nenhum comentário:

Postar um comentário