Antonio Carlos Egypto
GINGER & ROSA (Ginger & Rosa). Inglaterra, 2012. Direção: Sally Potter. Com Elle Fanning, Alice Englert, Alessandro
Viola, Christina Hendricks, Thimothy Spall, Anette Bening. 90 min.
Londres, 1962. No pós-guerra britânico, convivem a Guerra
Fria, com a ameaça muito concreta de uma hecatombe nuclear que poria fim à vida
na terra, com um mundo de mudanças nos comportamentos. O advento da pílula anticoncepcional, a
liberdade sexual dela decorrente, transformações efetivas no papel das mulheres
na sociedade. O advento da
contracultura: paz
e amor será o lema da era hippie. Uma década de grandes mudanças
e muito medo.
Nesse contexto, duas garotas adolescentes,
inseparáveis, são não só as melhores amigas, mas amigas para sempre, como se
definem. Nisso, nada de novo. Esse é um elemento conhecido e tradicional
dos relacionamentos entre meninas e moças.
Só que já não será possível algo tão intimista e exclusivo nessa
amizade, uma vez que o mundo exige tomada de posições. A crise dos mísseis de Cuba naquele 1962 é um
exemplo. A alienação é inaceitável. Vai daí que um programa obrigatório de ambas
serão as passeatas e panfletos de protesto contra as armas nucleares e a
militância pelo pacifismo.
Ginger, a ótima Elle Fanning,
admira o pai, Roland (Alessandro Viola), pelo seu jeito anárquico e pacifista,
um adulto em plena conexão com a sua época.
Já não sente o mesmo por sua mãe, Nathalie (Christina Hendricks), que
ainda não deu o salto para a liberdade que
se abria à vida das mulheres daquele período revolucionário. Enquanto isso, a sexualidade aflora e as
descobertas amorosas estão na ordem do dia.
E o pai descolado de Ginger vai interessar muito a Rosa (Alice Englert),
a melhor amiga dela. É em torno dessa
narrativa que decorre a maior parte do filme.
Nada de tão especial, a não ser pela
caracterização da época. “Ginger &
Rosa” é muito feliz, ao nos transportar para aquele período, em suas
características essenciais. Casas,
roupas, objetos, a vida na rua, os comportamentos, as preocupações, as
expressões, as comunicações, a propaganda, tudo nos remete àquela data. Viver
naquele momento da vida, não só na Inglaterra, mas em boa parte do mundo, tinha
implicações sociais evidentes, que em tudo se manifestavam. Havia um sentido de coletividade, que
alcançava todos, de uma forma ou de outra.
Isso o filme mostra muito bem.
Assim como a dicotomia liberdade e medo.
O tom escuro, londrino, como que enfatiza o medo. Justo agora, que podemos ser livres, o mundo
pode acabar a qualquer momento, parecia ser o pensamento dos jovens.
O que se verá, também, é que essa
nova liberdade não é assim tão simples de ser vivida. Encanta, por um lado, mas faz sofrer, por
outro. Na vida pessoal pode ser bem
complicado administrar tudo isso.
“Ginger & Rosa” é,
obviamente, nostálgico. E certamente
histórico. Permite um olhar para um
passado recentíssimo, muito rico de vivências e possibilidades que moldaram
muitos dos avanços de que desfrutamos atualmente. Também nos permite ver que tanta gente ainda
tem nostalgia de um tempo que, se tinha seu charme, já cumpriu seu papel. A ênfase na possibilidade da guerra nuclear
iminente, mostrada no filme, nos parece tão datada hoje... E, no entanto, como era verdadeira lá.
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