Antonio Carlos Egypto
SUPER NADA. Brasil, 2012. Direção e roteiro: Rubens Rewald. Codireção: Rossana Foglia. Com Marat Descartes, Jair Rodrigues, Clarissa
Kiste, Iacov Hillel. 94 min.
Guto (Marat Descartes) é um ator
em busca de uma oportunidade, que sobrevive como pode, fazendo pequenos
trabalhos. Ele tem lá suas pretensões
artísticas, não quer fazer qualquer coisa.
Mas se submete desde a testes para comerciais até a performances de rua, para levantar uns trocados.
A vida é dura para quem quer viver de cultura. É o que o filme mostra.
Ocorre que Guto acaba sendo
aprovado num teste para participar de um famoso e antigo programa de humor, na
TV. É certo que é só num dia do programa. Mas vem a esperança. Se der certo, com a visibilidade que tem a
TV, pode ser a oportunidade que ele esperava.
Além do mais, ele é fã do humorista Zeca (Jair Rodrigues).
Acontece que Zeca e o seu
programa Super
Nada estão em decadência. “Não está fácil pra ninguém” é um bordão que
o personagem interpretado por Jair Rodrigues repete várias vezes. Não está
fácil, mesmo, e pode ser mais complicado, se fatores pessoais no terreno
amoroso, como ciúmes, separação ou então alcoolismo, entram na história. Aí é que as coisas desandam de vez. Ou não.
Quando o estrago é muito grande, e todo mundo perde o rumo, é mais fácil
aceitar as maluquices do outro.
Marat Descartes é um ator muito
competente, tem dado vida a personagens tão ou mais estranhos e interessantes
do que esse Guto. A presença do cantor
Jair Rodrigues no filme é emblemática.
Ele não é ator, mas é um artista de sucesso, que já teve o seu auge. Continua querido e animado, mas o tempo
passou e a idade acaba pesando. Tem a
vivência que o aproxima do personagem Zeca.
Jair é uma figura espontânea e
que se dedica muito a tudo o que faz.
Isso fica patente no seu desempenho em “Super Nada”. O sambista brincalhão que ele sempre foi
gerou, nos anos 1960, uma brilhante interpretação de um clássico da MPB, que
venceu o Festival da TV Record, em 1966: Disparada. Uma música forte e séria, que
aparentemente nada tinha a ver com sua persona. Geraldo Vandré, o autor da música, ficou
preocupado com a escalação de Jair para defender sua canção e falou seriamente
sobre isso com ele, na época. Ele deu
conta do recado, magnificamente. De
forma inesquecível, aliás. Aqui, o
registro é mais difícil, porque é um desempenho de ator, não de cantor. Mas é legal vê-lo tão empenhado em seu
personagem.
Clarissa Kiste faz Lívia, a
mulher de Guto, que se envolve também com Zeca e instala-se o conflito, que
rompe o aparente equilíbrio possível, mesmo sob os efeitos etílicos. Está muito bem no papel.
A ideia de um programa de humor
tradicional de TV se chamar Super
Nada não poderia ser mais
direta. O que essa programação popular
de TV tem a oferecer é nada mesmo. No
superlativo. Por essas e por outras é
que, para quem quer trabalhar na cultura, “não está fácil pra ninguém”.
O roteiro e direção do filme são
do cineasta e professor da USP, Rubens Rewald, que tem um nome muito próximo do
de Rubens Ewald Filho, o crítico de cinema mais conhecido da atualidade. Um não tem nada a ver com o outro, a não ser
a paixão pelo cinema, que eu saiba. O
filme foi apresentado nos Festivais do Rio e de Gramado, na Mostra Tiradentes e
na Mostra Internacional de Cinema de São Paulo.
Recebeu prêmios no Rio e em Gramado.
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