Antonio Carlos Egypto
AS AVENTURAS
DE PI (Life of Pi). Estados Unidos/China, 2012. Direção: Ang Lee. Com Suraj Sharma, Irfan Khan, Adil Hussain,
Tobey Maguire, Ayush Tandon, Gérard Depardieu.
127 min.
Acredite no inacreditável é a chamada publicitária que anuncia “As
Aventuras de Pi”, do grande diretor Ang Lee, aquele que transita com êxito
pelos mais variados gêneros e estilos cinematográficos. Aqui é a fantasia que dá o tom do trabalho.
O
garoto Pi é um indiano, filho do dono de um zoológico. Pi = 3,1416?
Não, nada disso. Pi é o
diminutivo de Piscine (piscina). Simples assim. A história brinca com esses nomes
estranhos. Tanto que o personagem do
tigre, que contracena com Pi, se chama Richard Parker.
O fato
é que o tal zoológico particular do pai de Pi está de mudança, da Índia para o
Canadá. Mas vem uma terrível tempestade
e o navio que transportava a família do dono e os animais naufraga. Pi e o tigre-de-bengala, Richard Parker,
sobrevivem e têm de conviver no mesmo
barco salva-vidas, ou quase isso, já que uma pequena distância será possível de
se criar entre eles, mas não todo o tempo.
Imagine o que pode vir daí. E
acredite, se quiser.
O ponto
forte do filme – além do visual deslumbrante – é exatamente esse: é possível
crer em tudo, ou em nada, ou naquilo que parece mais interessante, mais bonito,
mais romântico, mais edificante. Cada um
escolhe aquilo em que deve acreditar. É
justamente aí que se situa a crença em Deus, um belo produto da imaginação e
desamparo humanos? Ou algo tão tangível
e real, como o relacionamento entre um garoto e um tigre, sobrevivendo em alto
mar? Sempre é possível marcar nenhuma
das alternativas anteriores e grafar uma melhor. Tudo bem.
Mas seja lá qual for a resposta, só é verdade porque você acredita. É isso.
Portanto,
deixe-se levar pela maravilhosa história do menino e do tigre, que tem lances
incríveis, que envolvem coragem, acaso, descobertas, vínculo humano-animal e, é
claro, magia. Não é difícil embarcar na
história, porque Ang Lee é um grande diretor e produz imagens tão belas e
sedutoras que a gente até poderia dispensar a trama. Fantástico!
E ainda mais arrebatador em 3D. A
técnica aqui é utilizada com talento e brilho, sem exageros, a serviço da
beleza plástica, não de efeitos pirotécnicos.
O resultado é excelente.
Uma
diversão e tanto, um exercício do culto à beleza das imagens e um convite à
reflexão. Tudo junto. Mais uma demonstração inequívoca da
capacidade criativa e versatilidade de Ang Lee, o diretor chinês, nascido em
Taiwan, que faz filmes tão díspares quanto artisticamente bem realizados, como “Comer,
Beber e Viver”, de 1994, “Razão e Sensibilidade”, de 1995, “Tempestade de Gelo”,
de 1997, “O Tigre e o Dragão”, de 2000, “O Segredo de Brokeback Mountain”, de
2005, e “Desejo e Perigo”, de 2007.
“As
Aventuras de Pi” tem roteiro de David Magee, baseado em livro best-seller de
Yann Martel. Recebeu 11 indicações para
o Oscar 2013, inclusive as de melhor filme e diretor.
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