quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

INFÂNCIA CLANDESTINA

Antonio Carlos Egypto

INFÂNCIA CLANDESTINA (Infancia Clandestina). Argentina, 2011.  Direção: Benjamin Ávila.  Roteiro: Benjamin Ávila e Marcelo Müller.  Com Teo Gutierrez Romero, Natalia Oreiro, César Trancoso, Ernesto Alterio.  112 min.
“Infância Clandestina”, o filme argentino indicado pelo seu país para a disputa pelo Oscar de filme estrangeiro, é um filme político que remete ao ano de 1979, em que se vivia a última ditadura militar (1976-1983).
O ponto de vista é o de uma criança, um pré-adolescente de 12 anos de idade, que capta aspectos importantes da realidade, mas não tem condições de entendê-la por inteiro.  O personagem é Juan (Teo Gutierrez Romero), que tem tal nome para homenagear Juan Domingo Perón.  Seus pais (César Trancoso e Natalia Oreiro), assim como seu tio Beto (Ernesto Alterio), participam do mais importante movimento revolucionário de resistência armada ao regime militar: os Montoneros.

Após passarem por treinamento em Cuba, voltam clandestinamente à Argentina, para se integrarem às ações da luta armada que por lá se desenvolvia.  Os dois filhos do casal permanecerão vivendo com eles, sendo que um é ainda bebê.  O garoto Juan terá de assumir o nome de Ernesto, passaporte falso, e terá de disfarçar o sotaque e expressões cubanos que adquiriu, para poder frequentar uma escola. E lá fazer suas próprias descobertas, entre elas, a do enamoramento, em meio às lutas políticas de sua família e precisando preservar sua própria clandestinidade.
Isso se parece com o que muitas crianças, que tiveram pais militando na resistência armada à ditadura, viveram naquele período.  O filme tem mesmo a intenção de mostrar, por meio do relacionamento humano, esse passado recente, violento e assustador, que a Argentina viveu. Mas é também a história vivida na infância pelo diretor Benjamin Ávila, que decidiu relatá-la em seu segundo longa no cinema.  O roteiro foi feito por ele, em parceria com o brasileiro Marcelo Müller
.

A opressão do período ditatorial na América Latina vista pelos olhos das crianças não é exatamente uma ideia nova.  “O Ano em que Meus Pais Saíram de Férias”, de Cao Hamburger, de 2006, mostra isso na realidade brasileira em plena Copa do Mundo de 1970.  “Machuca”, de 2004, de Andrés Wood, mostra os conflitos de classe gerados pelo convívio escolar de meninos, no Chile, que se revolucionava antes da chegada castradora de Pinochet.  Mesmo na Argentina já houve “Kamchatka”, de 2002, de Marcelo Piñeyro.  O próprio Benjamin Ávila informa que se inspirou em filmes como “Quando Papai Saiu em Viagem de Negócios”, de 1984, de Emir Kusturica, que tratava da perseguição aos dissidentes, na Iugoslávia de Tito, pela ótica de uma criança, e em “Minha Vida de Cachorro”, de 1985, do sueco Lasse Hallström.


No entanto, o diretor fez um trabalho diferente de todos eles, ao penetrar no âmago da luta armada, com as crianças vivendo os próprios tiroteios e o protagonista Juan/Ernesto percebendo em que estava envolvido e aprendendo a tática de viver clandestino.  Isso dá uma dimensão ainda mais forte e radical daquela época tão triste da história latino-americana.  Não espere, porém, por exacerbação de violência ou sangue à moda explícita do cinema comercial dos nossos dias.  O que predomina aqui é a sutileza.  Os tiroteios aparecem mostrados por desenhos fixos que se superpõem rapidamente e contam em detalhes tudo o que ocorreu.  Isso se repete em, pelo menos, três momentos cruciais do filme.  Em outros, a trama se desenvolve por meio de planos cujos cortes identificam o que aconteceu, sem necessidade de narrações, explicações ou diálogos reveladores.  A percepção se dá de forma sutil e incompleta, como seria vista pelo menino.  Mas tudo fica muito claro, já que somos adultos e razoavelmente informados politicamente.  É o que se supõe, claro.
Vale muito a pena ver “Infância Clandestina”.  E será inevitável se emocionar, se envolver com a narrativa.  O filme foi exibido no Festival de Cannes 2012, na 36ª. Mostra Internacional de Cinema de São Paulo e no Festival do Rio 2012.  Mais uma vez, a Argentina tem um bom concorrente para indicar ao Oscar.

2 comentários:

  1. Eu amo Cesar Troncoso é um magnífico ator, uma vez que eu vi na ou Mesmer, eu me apaixonei e eu o admiro por assumir riscos nos papéis que ele escolhe

    ResponderExcluir
  2. Muito aplaudem as ações de Teo Gutierrez, Cesar Troncoso, Natalia Oreiro e Ernesto Alterio. É um muito bom e emocionante história.

    ResponderExcluir