quinta-feira, 4 de outubro de 2012

Intocáveis




Tatiana Babadobulos

Intocáveis (Intouchables). França, 2011. Direção e roteiro: Olivier Nakache e Eric Toledano. Com: François Cluzet, Omar Sy e Anne Le Ny. 112 minutos


Dirigido e escrito a quatro mãos por Olivier Nakache e Éric Toledano, o longa-metragem francês “Intocáveis” (“Intouchables”) obteve grande sucesso de público e crítica no seu país, e foi capaz de levar aos cinemas mais de 23 milhões de pessoas. Como a obra teve baixo orçamento (menos de 10 milhões de euros), o público que prestigiou a produção fez dela um fenômeno nas bilheterias.

Com François Cluzet e Omar Sy, a comédia é baseada no livro autobiográfico de Philippe Pozzo di Borgo (“O Segundo Suspiro”) e conta a história de Philippe (Cluzet), um multimilionário que, após ficar paraplégico, precisa de um enfermeiro para ajudá-lo nas tarefas simples do dia a dia.

Depois de várias entrevistas, ele contrata Driss (Sy), negro ex-presidiário que não tem qualquer formação para o cargo, mas se deslumbra com o estilo de vida do milionário. Além de ajudá-lo a tomar banho e se a trocar, já que possui força e disposição, o cuidador leva o patrão para se divertir com mulheres e outras coisas que ele não fazia há muito tempo.




O longa, baseado no livro “O Segundo Suspiro”, escrito pelo próprio Phillippe Pozzo di Borgo, e no “Você Mudou a Minha Vida”, versão da história do enfermeiro argelino Abdel Sellou, não foca muito nas passagens tristes da vida do personagem; prefere mudar o olhar para a comédia, ao contrário, por exemplo, de “O Escafandro e a Borboleta”. E é sobre a amizade improvável entre duas pessoas que o longa foca: um pobre e um milionário, um negro e um branco, além da diferença de idade.

Destaque para a interpretação de Omar Sy, vencedor do Cesar 2012 de Melhor Ator, principalmente em uma das cenas mais interessantes que é o seu solo da dança.

“Intocáveis” garante boas gargalhadas, mas também doses extras de emoção.


Sucesso
No Brasil, o longa-metragem, que estreou em 30 de agosto, já foi visto por mais de 500 mil pessoas. E, ao invés de diminuir a cada semana, o filme faz o caminho inverso: apresenta um aumento semanal na bilheteria. Segundo a California Filmes, distribuidor da fita no país, em sua quarta semana em cartaz, o filme teve crescimento de 23% e subiu uma posição no ranking, terminando em quarto lugar. No acumulado, o filme arrecadou R$ 5,6 milhões.

Entre as causas possíveis do sucesso pode ser o fato de se abordar o tema delicado sem ser triste e depressivo e de ter a capacidade de falar com todos os públicos.

Filmes franceses, de uma maneira geral, são considerados cult, muitas pessoas não entendem, principalmente pelo fato de muitos não terem um final explícito (vide “Caché”, de Michael Haneke).

Quando se trata de um assunto delicado, como é o caso do milionário tetraplégico que procura um enfermeiro para ajudá-lo nas tarefas diárias, a tendência é que a trama seja dramática, triste, pra baixo.

“Intocáveis” vai ao contrário desse “padrão”. Isso porque o filme trata dessa temática teoricamente triste, de uma maneira inteligente e engraçada, eleva o espírito de qualquer espectador ao ver o desejo de viver que tem o cadeirante. E  não é só: tem começo, meio e fim, mas não é contado de maneira linear. Existe uma volta no tempo logo no início.

François Clerc, dos estúdios Gaumont, produtor do longa-metragem, indica que o sucesso se deve ao fato de o filme falar de heróis comuns. “O filme fala de pessoas que são rejeitadas – os cadeirantes e aqueles que vivem na periferia. E também porque é uma história real.”

Depois do sucesso na França, o longa-metragem ganhou prêmios, veio para o Brasil e, graças à distribuição, que não o isolou no “circuito de arte”, outras pessoas tiveram a chance de assisti-lo. Assim, muitos podem comprovar que filme francês não precisa ser, necessariamente, restrito aos intelectuais de plantão.

O boca a boca também ajudou bastante. Com as performances do atores, muitas pessoas comentaram não apenas na saída do cinema (assisti ao filme em uma sessão lotada, em pleno domingo), mas também nas redes sociais. Na semana de estreia, choveram comentários no Facebook e no Twitter de pessoas que assistiram ao filme, gostaram e contaram aos seus amigos.

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