quinta-feira, 26 de abril de 2012

SONHOS EM MOVIMENTO


Antonio Carlos Egypto
 


SONHOS EM MOVIMENTO (Tanzträue).  Alemanha, 2010.  Direção: Anne Linsel e Rainer Hoffman.  Roteiro: Anne Linsel.  Documentário.  89 min.


Continua em cartaz nos cinemas de São Paulo o documentário “Pina” (em 3D ou 2D), excelente filme de Wim Wenders, resgatando o trabalho dessa brilhante coreógrafa da dança contemporânea.  (Veja crítica postada aqui, em março de 2012).

Outro documentário é agora lançado e tem por base o trabalho de Pina Bausch, desta vez registrando a sua última atividade, realizada em 2008, poucos meses antes de sua morte.  É uma refacção de uma famosa peça montada por ela, pela primeira vez, em 1978: Kontakhof.  O filme, denominado “Sonhos em Movimento”, nasceu do interesse da diretora Anne Linsel de registrar essa nova montagem daquela que seria uma de suas peças preferidas.  Com interesse redobrado, já que agora Pina decidira trabalhar somente com adolescentes, da faixa de 14 a 18 anos de idade, de sua cidade Wuppertal, na Alemanha, que nunca haviam dançado antes, nem sequer haviam subido num palco até então.  Um grande desafio.

O que se vê em “Sonhos em Movimento” é a atuação de Pina e de suas colaboradoras, que tiveram o trabalho do ensaio exaustivo dos jovens, na construção da montagem, pouco a pouco.  Desde a seleção dos candidatos adolescentes, o interesse e a dificuldade deles em realizar os movimentos precisos exigidos, ao mesmo tempo em que vão se integrando como grupo e descobrindo um mundo de possibilidades artísticas. Eles vão percebendo a importância da entrega e da disciplina para desenvolver o trabalho, a necessidade de superar barreiras e inibições, a importância do compromisso na arte. 


Adolescentes geralmente evitam tal tipo de compromisso e uma disciplina como a dança de Pina Bausch exige.  Muitos deles nem sequer tinham ideia de que estavam trabalhando com um dos ícones da dança no mundo.  O fato é que, apoiados, estimulados, cobrados e valorizados, eles correspondem, crescem como pessoas e como artistas e obtêm um bom resultado, aprovado por ela.

Perceber o processo de trabalho do grupo de Pina, a tranquilidade com que conduz a atividade, a segurança e paz que demonstra no comando da montagem e o empenho de suas colaboradoras, é um trunfo do documentário.  E o maior é se tratar do último registro de Pina, antes de sua morte.  Kontakhof com um grupo de adolescentes é uma boa maneira de mostrar o processo criativo, porque parte de um material bruto, em que abunda a vitalidade, mas falta o conhecimento técnico.

Como isso vai se resolvendo é algo muito interessante e, ao mesmo tempo, emocionante de se ver.  O filme termina de forma comovente.  Um documentário como esse, capaz de envolver e emocionar com simplicidade é algo que merece a nossa atenção.  Não deveria passar em branco.  E aparece num momento oportuno, complementando “Pina”, de Wim Wenders, com delicadeza e admiração pelo trabalho de Pina Bausch.

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