Antonio Carlos Egypto
MINHA FELICIDADE (Schastye Moe). Ucrânia, Alemanha, 2010. Direção: Sergei Loznitsa. Com Victor Nemets, Olga Shuvalova, Vladimir Golovin. 127 min.
“Minha Felicidade”, o primeiro longa-metragem do diretor bielorrusso Sergei Loznitsa, é um soco no estômago. Na verdade, é um road movie desesperançado, que já começa ironizando desde o título. Não há felicidade alguma, só a ausência dela. O que mais se vê aqui é sordidez.
Georgy (Victor Nemets) é um caminhoneiro que pega uma saída errada e se perde, passeia pela área rural da Rússia, conhece tipos e figuras diversos, mas todos marcados pela lógica do homem lobo do homem. Há violência, estupro, constantes e frequentes abusos de autoridade, enganação, roubo, prostituição infantojuvenil e por aí vai. Uma viagem que só poderia desembocar num beco sem saída.
Pessimista demais, certamente. Mas bem mostrado por uma câmera que registra tudo a seco, sem comentar ou se emocionar com o que mostra. E o que se vê é terrível. A sensação é a de que, definitivamente, a humanidade não está dando certo, pelo menos na Rússia.
Se quase não sobra nenhuma humanidade nos personagens, estão todos matando para tentar sobreviver, o que se intui é que tudo isso está inserido, e justificado, por uma história de fome, guerra, opressão, que se entranhou no tecido social e se naturalizou. Nada mais surpreende.
Terá chegado a Rússia ao fundo do poço? Ou, de alguma forma, sempre esteve lá? Da opressão dos Czares, passando pelas guerras e pelo comunismo stalinista de triste memória, para chegar ás máfias e à corrupção generalizada, parece que as coisas foram perdendo todo o sentido, aos poucos. Só restou, mesmo, o desconsolo. Pelo menos, é o que o filme de Loznitsa nos passa.
Quanto disso é verdadeiro ou não, não sei. Embora seja inevitável reconhecer que o filme não está delirando. Pode estar exagerando, pode ter elevado seu pessimismo ao mais alto grau, mas a realidade está lá, de uma forma ou de outra. E só nos resta apreciar o trabalho artístico, de cunho bem realista, por sinal, e lamentar. Não era para ser assim, obviamente.
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